segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A deselegância discreta das tuas meninas




Pra mim, a maior característica e qualidade de São Paulo é o cosmopolitismo. São Paulo mostra a nós, cariocas, o quão provinciano somos. E preconceituosos. Se no Rio, temos meia dúzia de tribos - os surfistas, as meninas de calcanhar sujo da PUC, como diz o Joaquim, os hypes e mais dois ou três tipos - que se encontram no Posto 9, na Lapa ou no Baixo Gávea, em São Paulo, não. São Paulo tem um sem número de tribos, que não se misturam tanto. Ou não se misturam.
Se no Rio, em seis meses todo mundo já vira carioca e fala "mermo". Em São Paulo pode-se morar uma vida inteira, sem precisar falar “mano”.
Se Nova Iorque e Londres são as capitais do mundo, São Paulo é o que temos mais próximo disso. Em São Paulo tem-se a impressão de que há mais gays. Mas não. Lá, eles têm mais liberdade de expressão, andam de mãos dadas, e com roupas extravagantes. No Rio, os que andam assim, são no mínimo olhados com estranheza. São Paulo tem tanta gente que não tem nem tempo pra isso.
Em São Paulo, como nas grandes capitais americanas, tem sua “Little Italy” e sua “Chinatown”. São Paulo me lembra Los Angeles. Você entra para comer um Burrito num fast food mexicano e ouve pessoas conversando em alemão.
Outra coisa que me fascina em São Paulo é a sua conservação. É difícil achar um buraco no asfalto. Os jardins são muito bem cuidados e é realmente diferente uma cidade sem outdoors. A qualidade de serviço em São Paulo é impressionante. Você senta num bar e pede um refrigerante, o garçom vem pergunta se você quer copo ou canudo e te atende de maneiro muito educada e eficiente. Claro que é difícil encontrar no mundo uma cidade tão linda como o Rio, mas São Paulo nos ensina que ordem e gestão são essenciais, sim. Do contrário, o Rio vai ficar para sempre se vangloriando de suas mesinhas na calçada.

sábado, 5 de dezembro de 2009

O Brasil bomba

Há cerca de 50 anos, Nelson Rodrigues escrevia sobre o Complexo de Vira Latas, termo que todo mundo conhece mas que poucos leram, de fato, o texto que o originou: ''por 'complexo de vira-lata' entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo '' ainda: ''o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima''. 50 anos depois, a gente tem, sim, motivos para sermos, se ainda não um Rotweiller, pelo menos um Cockspenel. Pouca gente sabe porque os jornais quase não noticiaram, mas há duas semanas a capa da ''The Economist'', uma das revistas de geopolítica mais conceitudas do mundo estampou na capa: ''Brazil takes off''. Dentro, 14 páginas elogiosas ao país e sua perspectiva de crescimento nos próximos anos. A única matéria que eu li sobre essa reportagem foi no ''O Globo''. E um dos sociólogos entrevistados pelo jornal disse que a visão do Brasil lá fora é muito melhor do que a percepção que os brasileiros têm aqui dentro.O Renato Russo cantou nos anos 90, logo após o Plano Collor, que ''meus amigos todos estão procurando emprego''. Hoje não. Os meus amigos e os seus amigos estão empregados. Muitos deles bem empregados. A Economia vai muito bem, obrigado. A democracia também. Hoje quase ninguém morre de fome no país. O Bolsa-Família é super elogiado. Nosso presidente é ''o cara''. Devemos isso aos últimos 16 anos de bons governos, que continuarão nos próximos quatro, independendentemente do eleito. Mas é claro que ainda temos muito a melhorar: a Educação, a Saúde, a corrupção, o funcionalismo público e... a autoestima.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Não me diga isso

Há algum tempo, motivado por um testemonial de um amigo para outro, eu vinha pensando em escrever um texto sobre “a beleza das coisas comuns”. Talvez soasse um pouco clichê, e seria, na verdade. Inspirado no about que muitas pessoas têm no Orkut “Quero poder sentir a delícia das coisas simples”, do Bandeira.
O texto iria falar sobre a necessidade de tornar as coisas mais leves, sem tanta pressão. Seria, ao estilo, de como gostam de escrever os poetas, sobre a infância distante, dos tempos em que jogavam peão, ou o saudosismo do Dorival que “tem saudade da Bahia”.
Queria voltar à essência da vida. Fora da pressão de inserção no mercado de trabalho, de pós-graduação, de relacionamento. Falar do tempo em que a maior preocupação era saber se ia ter legume no jantar (torcendo para que não) ou se seria titular no time do colégio.
Mas aí eu ouvi uma música da Legião, que por um lapso, eu nunca havia dado tanto ouvidos. “A Via Láctea”: “Queria ser como os outros e rir da desgraça da vida, ou fingir estar sempre bem, ver a leveza das coisas comuns. Mas... não me diga isso”. Aí, eu perdi o argumento do texto.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O domingo na segunda

Quis escrever este texto na segunda para que ele não fosse contaminado pelo ar de domingo, tema do texto que segue. A segunda-feira tem um ar mais racional e talvez seja melhor para analisar de fora esse dia tão idiossincrático. Os dias da semana são mais ou menos iguais. De segunda a quinta é tudo meio parecido, principalmente pra quem estuda ou trabalha. A sexta tem um quê de quinta e um pouco do sábado. Mas tem um dia da semana que não tem irmão, é filho único. Domingo é sui generis. Se domingo fosse uma cor seria cinza, se fosse um estado seria São Paulo (ou Brasília) e se fosse uma estação seria o Inverno. A sexta e o sábado representam a esperança do novo, da mudança. O domingo é a confirmação de que nada novo aconteceu, misturado com a rebordose destes dois outros dias. Ouvi uma vez que domingo é o dia em que há o maior número de suicídios. Depois, ouvi outra versão, de que na verdade este fatídico dia seria a segunda, porque as pessoas tomam a decisão de se matar no domingo, mas como domingo ninguém faz nada, deixam para a segunda. Domingo é de fato o dia da reflexão. Domingo é o dia em que as pessoas não atendem celular e que o analista não trabalha. Domingo é o dia em que a TV não contribui. Nem o Botafogo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O figuraça e o silêncio

Eu não sou uma figura. Dificilmente você irá ouvir alguém fazer referência a mim como: "Aquele moleque é uma figura" quiçá "figuraça". Tampouco irão caracterizar-me como ''daquelas pessoas que estão sempre de bem com a vida". A vida também nem sempre está de bem comigo. Eu sou péssimo contando piada. Acho que não sei nenhuma. Eu falo baixo. Possivelmente numa mesa de bar com cinco pessoas, estou entre a segunda e a terceira que menos falam. Talvez seja um misto de timidez com a real falta de vontade de participar do assunto, muitas vezes. Isso tudo já me incomodou. Eu achava o máximo o cara que chega e toma conta do pedaço, faz todo mundo rir. O "figuraça". Aquele cara que não deixa o silêncio no ar. Aí depois, eu passei a perceber que o "figuraça" também pode ser um cara inseguro. Que, muitas vezes, ele está falando o tempo todo num intuito de querer agradar. E essa coisa de puxar assunto o tempo todo me soa meio artificial. É o tal do super simpático. Hoje em dia, eu acho o "figuraça", na verdade, um espaçoso. Acho que isso está relacionado ao fato do ficar sozinho. Eu gosto. Sou filho único, já me acostumei. Eu prefiro subir sozinho no elevador. Quando eu sento no metrô, fico torcendo para aqueles velhinhos que gostam de puxar assunto não sentarem do meu lado. Eu curto atividades solitárias (além da estrela) como a leitura, um Ipod. Depois de um tempo eu aprendi uma coisa. Na verdade, eu li em algum canto: ''As melhores relações são aquelas em que o silêncio não incomoda''.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O seu cheiro dentro de um Kindle

De uns tempos pra cá, eu venho cada vez mais admirando e tentando me interar sobre as novas mídias. Escrevi minha monografia sobre blogs e recentemente fiz um trabalho pro MBA sobre a relação destas novas mídias na Pólítica Internacional: a campanha do Obama, o Twitter no Irã...
O meu ceticismo em relação ao fim do jornal impresso já acabou. Hoje eu sei que é uma questão de (pouco) tempo. O jornal é sujo, desconfortável para ler em certos ambientes e tem gente que é alérgica. Fora toda a questão ambiental, cada vez mais recorrente. Os jornais hoje só não estão em situação pior por causa das pessoas mais velhas e pelas classes C e D, que aumentaram seu poder de compra nos últimos anos.
Agora a bola da vez é o Kindle. O Kindle tem, para mim, uma vantagem essencial em relação à Internet. A tela dele não tem luz, portanto não incomoda tanto a vista. O que me faz até hoje não conseguir ler textos grandes na Internet e nunca ter acreditado que esta suplantaria os livros.
O Kindle também tem outra característica fundamental. Fundamental para mim pelo menos: dá para você ler deitado. Em suma, o Kindle é quase perfeito: os textos são mais baratos, é ecologicamente correto, você carrega menos peso na mochila...
Mas ao contrário dos jornais impressos que você lê e depois usa pra forrar a gaiola, o livro é um bem. Eu me orgulho da minha estante de livros, por exemplo. Acho que ela compõe bem o espaço esteticamente e aqueles livros remetem a certas fases da minha vida. Acho que as estantes de livro fazem com que você conheça melhor a pessoa.
Apesar disso tudo, eu vou ter um Kindle em breve, com certeza. Mas depois de ouvir estas músicas no meu Ipod, o Kindle da música, fiquei com um certo saudosimo adiantado.
Como a Adriana vai dizer que "e o meu coração dispara quando tem o seu cheiro dentro de um livro"?
E será que o Caetano vai amar o Kindle de amor táctil?
"Os livros são objetos transcendentes, mas podemos amá-los de amor táctil, que devotamos aos maços de cigarro(...)"

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Confissão

Esse lance de escrever é meio injusto. Eu fico aqui me expondo sem saber quem é você. Você pode me conhecer sem que eu nem saiba o seu nome. Você entra num pedacinho da minha vida e, logo em seguida, clica na setinha azul à esquerda de ''voltar'' e volta pro Orkut, pro Twitter, pro Ego... Tudo bem, é uma escolha minha. Eu, e todos que escrevem, somos extremamente vaidosos (por mais que deixemos a barba meio malfeita). Quero que você leia e, se possível, recomende a um amigo. Uma amiga é melhor. Bom mesmo seria se rolasse um comentário. Mas quando eu vou ali no Stat Counter e vejo que 18 pessoas entraram no meu humilde endereço no dia, eu fico me perguntado quem são vocês. Eu fico querendo saber se você, menina que fez parte da minha vida por quase três anos, está entre essas pessoas. Se você, que eu fico volta e meia, contribuiu para mudar aqueles número. Se você, garota que me inspirou pra alguns destes textos, está ali. Se você, que eu conheci numa noite dessas, e me disse que também escreve, pára (esse acento ainda é importante) um minutinho pra ler essas linhas cada vez mais desconexas. Se você, amigo que morou comigo na Califórnia, perde seu tempo aí num estado distante para saber as baboseiras que eu preencho neste espaço vazio. Os amigos de sempre eu sei que estão. Se você, blogueira, que disse que ia voltar, voltou realmente. Como, você que é do Rio Grande do Sul, descobriu esse http tipicamente carioca, no bom e no mau sentido. Como estratégia de Marketing, coisa que venho aprendendo, divulgo esse blog no Twitter, no Orkut, e em conversas por aí, portanto, as formas de acesso são variadas. Mas esse é um mistério que vai que eu vou carregar comigo pra sempre. A minha assinatura está ali, a sua eu nunca vou saber. De qualquer forma, quando puder, dá um pulo aí. É bom saber que tem alguém do outro lado do monitor.

sábado, 3 de outubro de 2009

O cético e as Olimpíadas

Nelson Rodrigues era quem estava certo. 50 depois, nós, os vira-latas comemoramos o ''milagre'', como estampam os jornais. Os coitadinhos vencemos. Agora vamos criar o Ministério das Olímpiadas, nao sem antes emendarmos o Ministério da Copa, claro, com dois milhões de vagas para nossos queridos servidores públicos. O investimento previsto é de R$ 24 bilhões de reais. É o mesmo valor que vamos usar para comprar os mísseis e o submarino da França. Com R$ 48 bilhões a gente comprava duas vezes mais mísseis e dois submarinos, porque, você sabe, os ianques estão de olho no Pré-Sal. Eles já estão ali na Colômbia. Pior mesmo é ver ''o cara da torneira'' todo suado dando entrevista, nem quando o mundo todo está olhando pra ele, ele consegue conjugar direito os verbos. Foi o único que não falou em Inglês na entrevista. Bonita mesmo era a delegação espanhola. O Zapatero de terno verde, que elegância! Eles é que saberiam mesmo fazer uma Olimpíadas decente. Mas não, ganhamos nós, os coitadinhos. Com o discurso de que nunca na História deste planeta um evento olímpico foi realizado no continente das bananas. Os gringos querem mesmo é curtir umas mulatas, umas gostosonas. Ou vocês não viram a cara de safadão daquele presidente do COI? Aposto que teve uma ereção quando falou ''Riow de Janeirow''. Agora, estão aí, mais R$ 24 milhões na mão do Senado pra eles gastarem lá com suas meretrizes em Brasília. Talvez sobre alguma coisa pra gastar aqui no Rio. Construir uns outros elefantes superfaturados brancos que nem o Maria Lenk e o velódromo. Já avisaram que vão precisar de R$ 5 bilhões para a contrução do estádio de Badmiton. Mas o povo não está nem aí, é só botar show do Revelação e do Lulu todo final de semana até 2016. Quer dizer, final de semana, não, bom mesmo é botar na sexta, que a galera já emenda logo.

Já que eu não sou o Jabour, é bom explicar que esse é um personagem. Ou, para não acontecer o que aconteceu com o Cuenca, são recursos irônicos. #Yeswecréu!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Lugar de torcedor é na arquibancada

Semana passada, no meio das notícias sobre o que fazer para fugir do rebaixamento, eu li uma que não teve tanto destaque, mas explica a atual fase do Botafogo e do futebol carioca, em geral. O presidente do clube entrou numa pós-graduação em Gestão Esportiva. Ele e outros três dirigentes. Você pressupõe que se ele está começando uma pós em gestão, ele é formado em Administração, em Economia, que está só aperfeiçoando um conhecimento prévio no assunto. Mas não, o presidente do Botafogo é... dentista. Isso mesmo, uma empresa enorme, com uma folha de pagamento de mais de um milhão de reais mensal, com mais de dois milhões de clientes em potencial, é administrada por um dentista. Acho louvável a intenção dele em estudar o assunto, mas a ordem dos fatores é que me assusta. Primeiro, ele deveria se interar sobre o tema, para aí então, se candidatar a alguma coisa relacionada à gestão.
O exemplo do Botafogo serve para os outros times do Rio. O presidente do Fluminense é... cardiologista. O Marcio Braga eu não sei o que é, mas pela administração do Flamengo (a maior empresa brasileira de futebol) nos últimos anos, boa coisa não é. No Vasco, é o ex-jogador Roberto Dinamite, que não deve saber muito bem mexer no Outlook. Todos eles têm o mesmo argumento para serem presidentes de seus respectivos clubes: a paixão. São loucos pelos seus times, mas até aí morreu Neves. Eu também sou fanático pelo Botafogo e não sou presidente dele. Só para efeito de comparação, o presidente do Palmeiras é um economista, que estava cotado para ser presidente do Banco Central. A título de curiosidade, o Palmeiras é o líder do campeonato.
Eu não quero um torcedor apaixonado para ser presidente do meu clube. Eu quero alguém competente, que saiba administrar uma empresa, que entenda de Marketing, que fale Inglês e todos os outros requisitos que qualquer grande empresa exige. Pode até ser flamenguista, quer dizer flamenguista, não, pode até ser são-paulino. Com os R$ 70 mil reais que se paga ao Alessandro, você traz um administrador pós-graduado em Oxford.
Mas enquanto o presidente do Botafogo não acaba o curso, só me resta torcer para não sermos reprovados este ano.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Só Freud explica... o Twitter

Eu já li diversos estudos sobre o Twitter como ferramenta de Comunicação. Talvez seja realmente esta a principal utilidade do Twitter. Mas o microblog tem algo mais. Tem elementos psicanalíticos e sociais inerentes a ele. Mas como nem os psicólogos nem os sociólogos estão no Twitter, eu, com a aula de Psicologia & Comunicação que tive na PUC e algumas sessões de análise nas costas vou tentar suscitar a discussão. Em primeiro lugar, toda comunidade virtual é uma máscara. Na verdade, eu acho que a frase original é (''o ser humano é composto por diversas máscaras''). No Orkut, você põe umas fotos em que está ''bonitinho'', outras de lugares bacanas que visitou e entra nas comunidades com as quais você se identifica e com as que quer que as pessoas o identifiquem. Ex: ''Chico Buarque'', ''cinema iraniano'', ''eu adoro micareta''... Enfim, é uma imagem que você quer transmitir. Já o Twitter não trata da imagem, mas das ideias. Isso é essencialmente diferente. Ali é o discurso que está em jogo. E o discurso é exatamente a forma da psicanálise agir. Você vai no analista e faz o que essencialmente? Fala. O Twitter tem um componente importante: parece que você está falando sozinho, mas você sabe que alguém está te ''ouvindo''. Ou seja, o Twitter, ou melhor, o que o Twitter proporciona é uma companhia. E com a disseminação dos smartphones isto é ainda mais nítido. Você já deve ter visto alguém twittando da night. Às quatro horas da manhã, o cara twitta que "vou pegar uma cerva'' da Casa da Matriz, ou que ''A night está um saco''. Por mais que não tenha ninguém online naquele momento, a sensação é de que ele está conversando realmente com alguém. É uma companhia. Com o Blackberry, então, é sua companhia 24/7.
Outro elemento que o liga o Twitter à psicanálise é o Twitter como ''mural de lamentações''. ''A vida está dura''; ''Estou precisando meditar'', ou aqueles ainda que querem se autoafirmar ''Minha vida é dez''; ''Eu amo a minha vida'', que são também formas de insegurança e podem justamente signficar o oposto. Há ainda os que entram no Twitter para dizer que não conseguem dormir. Quantas vezes você já não leu alguém twittando "insônia"? Bem, eu admiro a psicanálise à mesma proporção que a desconheço, portanto, eu não sou a pessoa mais indicada para falar desta relação entre a mais interessante das ciências humanas e o Twitter. É melhor ir direto no cara: www.twitter.com/lacan


domingo, 30 de agosto de 2009

Se nada mais der certo

Esse é o nome de um filme brasileiro a que assisti há algumas semanas. O filme é um saco (embora o Rodrigo Fonseca ache o contrário), mas tem duas coisas legais. O nome e um diálogo que motiva o texto que segue. Nele, uma das personagens, uma ex-viciada que tem um filho e para quem nada dá certo, arruma um emprego em uma loja. Um dia ela está conversando com uma amiga sobre o dia de trabalho. Ela conta que uma mulher entrou na loja e comprou uma blusa (ou vestido, sei lá) horrível por três mil reais. "Cara, eu prefiro sofrer e passar por momentos difíceis do que desejar pouco". Não sei se a história foi compreensível a vocês, mas eu gostei muito dessa frase. Outro dia estava conversando sobre isso com um amigo. Às vezes me parece que tem gente que faz a opção por levar a vida numa linha reta. Fica num relacionamento ramerrame ou num trabalho burocrático, achando que a vida é assim mesmo, medíocre, na acepção da palavra. Sempre acomodado. Não sofre muito, mas também não sente aquele friozinho na barriga do novo, do excitante. A vida é feita de altos e baixos. O Schopenhauer diz que para saber realmente o que é felicidade, você tem que passar pelo âmago do sofrimento antes. Não sei é preciso ser tão radical ou pessimista, como ele é taxado, mas assim quando você só dá valor à saúde quando está doente, eu concordo em parte. Qualquer ruptura traz dor, traz sofrimento. Mas isso faz parte da vida. Não se preocupe em ser exigente, em querer mais, em ser sonhador. O sonho é o que move a vida. Ruim é desejar pouco.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Papo "careta"

Para quem não estudou Comunicação, deixe-me contar uma história de bastidores: há entre Publicitários e Jornalistas uma certa rixa. Pelo menos, entre os mais “ativistas”. Os primeiros são os “vendidos”, os que estão aí só para manter o sistema (pois é, ainda tem gente que fala em “sistema”). Os segundos são os sonhadores, os que lutam por um mundo melhor, que vão transformar alguma coisa. A arma destes (ou devo confessar, nossa) contra eles, os vendidos, é o livro “A Publicidade é um cadáver que nos sorri”, do Toscani, ex-publicitário da Benneton. Há também os que fazem Cinema. Estes, em sua maioria, olham pretensiosamente todo mundo de cima porque fazem arte. Isso tudo, claro, na faculdade, quando se tem 20 anos, depois você se forma e vê que o sonho é outro. Que ganhar dinheiro é legal e que nem tudo é tão maniqueísta assim. Principalmente tratando-se de Comunicação. Destas três profissões, definitivamente, a Publicidade é a mais bem sucedida, pelo menos de uns tempos pra cá. A Publicidade é a vertente mais exposta do Capitalismo. Ela alimenta-se da concorrência. Agora a pergunta que eu faço é a seguinte: Em pleno séc. XXI, o que não se alimenta do capitalismo? Aí que está o meu ponto: os jornalistas e cineastas têm culpa, sim, na decadência de suas respectivas profissões. Geralmente, são mais cultos que os publicitários e talvez por isso, são à mesma proporção mais céticos e preconceituosos. São os donos da verdade. Têm uma certa aversão à tecnologia, por exemplo. Blackberry é coisa de burguês, Twitter é coisa de nerd, Marketing é coisa do diabo e por aí vai. Outra palavra que não combina com jornalistas e cineastas é gestão. Não à toa, quase não tem MBA para Jornalismo e Cinema. Não estou querendo burocratizar nem padronizar as atividades humanas. Mas organização, gestão, mercado e tecnologia são palavrinhas básicas do nosso tempo, para qualquer ramo. Até para mudar o mundo. Se não adequarem-se a isso o Cinema no Brasil vai sugar eternamente o nosso dinheiro, através da Lei Rouanet, e os jornalistas vão estar sempre se lamuriando pelos cantos que trabalham muito e ganham pouco.

PS - Aos amigos jornalistas e cineastas, eu pago o chopp para a gente fazer as pazes. Mas, falando sério, claro que isso é uma generalização preconceituosa. À esquerda, minha formação para justificar.

domingo, 16 de agosto de 2009

Do geral para o particular

Amor platônico é o pior tipo de amor. Porque você não ama uma pessoa, você ama a ideia dessa pessoa. E, como eu escrevi outra vez, as ideias são, na maioria das vezes, melhores do que o real. Você não está junto para que a idealização torne-se real. Quando você está longe, você só lembra das qualidades, das coisas boas. Acho que é por isso que as pessoas depois de mortas são tão cultuadas. Elas viraram uma ideia.
Dizem que os poetas amam o amor. E não a pessoa. Têm esse glamour do amor idealizado, sublime. Ou seja, eles amam o sentimento. E o sentimento é uma abstração. E eu acho que é mais fácil amar uma abstração do que uma pessoa. A pessoa pode ter chulé, roncar, ser infantil, ser rude. O sentimento não. O sentimento é estável, é lindo, é puro.
Por isso que o amor platônico é uma merda, porque a pessoa vai desperta em você este sentimento e depois não fica pra mostrar que ela não é isso. Aí, o que sobra pra mim é a ideia de você. Não você. E eu tenho certeza de que a minha ideia de você é mais legal do que você.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Time is Money

O texto abaixo foi um dos poucos que eu escrevi nos oito meses que fiquei nos EUA ano passado. Muito bons tempos. Hoje, 5 de agosto, completa um ano que eu voltei. Escrevi à época no http://www.sobrecasaca.com.br/, blog que mantive com meus amigos antes de desertar para este. O blog ainda existe, muito bem escrito pelos marujos João Vicente e Daniel.

*********************

A frase que a gente costuma usar para provocar alguem quando esta pessoa esta atrasada ou para agiliza-la tem um significado diferente aqui nos EUA. Ou melhor, tem o significado absolutamente literal. Aqui, como em nenhum outro lugar do mundo, tempo eh dinheiro. 8, 10, 20, 30 dolares dependendo do lugar. Eles pagam por hora, ao que chamam de wage. Salary, seria o mensal, mas quase ninguem recebe dessa forma. Por exemplo, no restaurante em que trabalho eles me pagam 8h por hora, que eh o minimo wage na California. Cada estado tem o seu minimo. E por essa razao, a de o seu boss estar te pagando por hora, voce tem que recompensa-lo de alguma forma. Mesmo que nao tenha cliente nenhum nessa uma hora, por exemplo, voce tem que se virar para arrumar algo para fazer. Botar os molhos na garrafa, arrumar os guardanapos, ou qualquer outra tarefa menor. Porque nao faz sentido voce estar recebendo 8 dolares para nao fazer nada. Esse eh um exemplo menor, mas que no geral pode ser uma das razoes de eles serem tao desenvolvidos. Nessa mesma uma hora em que estou fazendo tais coisas no restaurante, todos os trabalhadores americanos, cada qual em sua area, tambem estao. Pode ter certeza. Aqui conversa fiada e braco cruzado nao existem. Porque custa dinheiro para alguem. A relacao eh direta e explicita. Time - Money. O que eh bom também para o empregado. Ao contrario do Brasil, trabalhando num jornal, por exemplo, como ja foi meu caso em algumas vezes. Voce teria, supostamente, que trabalhar oito horas por dia, o que nunca ocorre, voce trabalha 10, 12 e nao recebe nada mais por isso. Aqui, nao. Se te pedem para ficar alem do seu horario, voce pode ter certeza de que vai receber por aquelas horas a mais. Voce nao se sente explorado. Se voce trabalha 15 minutos a mais do seu tempo, voce recebe por esses minutos, nem que seja dois dolares. Bem, eu adoraria continuar essa conversa, mas tenho que ir para o trampo, porque voce sabe, time is money. Aqui, pelo menos.

Sem acentos e cedilhas,
Julio,
San Diego, Ca

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Relações Internacionais: três meses depois

Faz três meses que eu comecei minha Pós em Relações Internacionais. Antes completamente leigo no assunto, hoje eu já sei qual a capital de Honduras.
As teorias das Relações Internacionais dividem-se basicamente em duas correntes: a Realista (e a que funciona na prática, talvez daí venha o nome) que coloca o Estado acima do indivíduo, e defende a soberania dele, Estado. A outra, cujo teórico principal é Kant, é o Solidarismo Liberal (ou o sugestivo nome de Idealismo), em que o indivíduo tem um valor maior do que o Estado.
Saindo do campo teórico para o que costumam chamar em RI de prático, mas que eu reluto e prefiro chamar de atual, há, oriundas destas correntes acima, dois tipos de posição no sistema internacional. Uma, criada em 2005, chamada de R2P (Responsability to Protect) e a outra, contrária, que defende o princípio de não-intervenção. O Brasil faz parte da segunda corrente.
Há um caso que define bem e ilustra esses dois pensamentos. Existe hoje em Darfur, no Sudão, um conflito que começou em 2003 e no qual mais de 400 mil pessoas foram assassinadas sob o regime de um ditador genocida.
Segundo o R2P e o Kant, é obrigação da comunidade internacional intervir no Sudão e interromper este genocídio. Já de acordo com a outra corrente, a da não-intervenção (Brasil e os gente boa China, Rússia, Venezuela, Irã, entre outros) o Estado é soberano, portanto outros países não podem intervir.
Um dos argumentos que eu ouço do porquê o Brasil defende a não-intervenção é o de que teria medo de uma possível ingerência na Amazônia, a partir deste princípio.
Aí, fico eu com a minha visão leiga da história. Os Estados, ou melhor, a linha que define os Estados são uma convenção e, portanto, abstratas. Já o ser-humano, a vida, é concreta.
Bem, no que eu vou aplicar esse conhecimento eu ainda não sei, mas sobre uma coisa eu já me defini: torço contra a entrada do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e não dou “forward” nos e-mails que eu recebo contra a privatização da Amazônia.

domingo, 26 de julho de 2009

Quando o futebol é só um detalhe

Meu bom amigo João Vicente escreveu sobre o Cuca (http://www.sobrecasaca.blogspot.com/). João, não me leve a mal, não, mas quem sabe falar sobre o Cuca sou eu, ou melhor, quem sabe falar sobre o Cuca somos nós, botafoguenses. O Cuca é o Botafogo. Não estou dizendo que o Cuca é Botafogo, isso é detalhe. O Cuca é o Botafogo, usando uma metonímina, a parte que abrange o todo. Acusam o Cuca de ser "instável emocionalmente". Nelson Rodrigues sobre o Botafogo: "O Botafogo é o clube mais passional, mais siciliano, mais calabrês do futebol brasileiro". Dizem que o Cuca é pessimista. "Ponham uma barba postiça num torcedor do Botafogo, deem-lhe óculos escuros, raspem-lhe as impressões digitais e, ainda assim, ele será inconfundível. Por quê? Pelo seguinte: - há no alvinegro, a emanação específica de um pessimismo imortal" Nelson. Há cerca de dois anos houve um episódio entre Cuca e Botafogo que não foi uma coisa entre técnico e clube. Foi justamente o choque de duas cabeças emotivas, passionais, sensíveis... O Botafogo perdeu um jogo para o River Plate na Argentina de uma forma muito dolorosa, dessas que só acontecem ao Botafogo, que à época me levou a escrever este texto: http://sobrecasaca.blogspot.com/2007/09/um-time-de-futebol.html. Depois dessa derrota, o Cuca saiu do Botafogo após dois anos à frente do clube. Chamaram outro técnico, o Mario Sergio, que ficou três jogos (e perdeu todos), logo depois quem voltou? Era um relacionamento longo, de dois anos, de altos e baixos, depois de o Botafogo ficar muito tempo saindo com um, flertando com outro, meio sozinho. Aí chega o Cuca. A auto-estima volta. Depois de uma crise, eles terminam. O Botafogo vai e fica com o Mario Sergio (quer nome mais personagem de Nelson Rodrigues do que o Mario Sergio?) Mas o Botafogo pensava no Cuca e o Cuca nele, Botafogo. Voltam. Depois terminam de novo, o Cuca vai, ganha um títulozinho por aquele outro time e tal, mas pode escrever aí: todos os botafoguenses sabem que essa relação, que vai muito além do futebol, de bola na rede, ainda terá outros capítulos. Nelson Rodrigues adoraria escrevê-los.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O idealizador

A reportagem de capa da Época esta semana é a mais interessante que uma revista já fez: "Dá pra ser feliz no trabalho?". Resumindo a matéria, ela diz o seguinte: Na antiguidade, o trabalho era feito pelos servos e escravos que trabalhavam até 14hs por dia. O trabalho tinha o fim único de sobrevivência. De uns tempos para cá, o homem passou a ter esta noção de que o trabalho, além do sustento, tem de trazer felicidade. Uma das autoras em que a matéria se baseia diz que esta história de a empresa tentar manter um ambiente de trabalho alegre, recreativo e tal é para te manter mais tempo no trabalho. "Um engodo", define. Há ainda o exemplo de um dos trabalhos mais antigos da Humanidade, o do artesão. Aquele em que o resultado do seu trabalho depende exclusivamente de sua técnica. Se bem feito, tra-lhe satisfação. Satisfação, palavra-chave (ainda tem hífen?) desta questão, a meu ver. O outro autor conclui dizendo que não, que o trabalho é para você trabalhar, você busca felicidade em outras coisas. Eu, com meu diploma de filósofo de botequim (que anda valendo mais do que o de Jornalista) levo a discussão adiante. Eu acho que essa ideia de realização e felicidade no trabalho tem a ver com uma certa idealização humana. De querer tudo sempre num estado sublime, perfeito, ... idealizado. Seja no trabalho, no amor, nos estudos, enfim... Isso que eu acho que o ser humano tem que trabalhar (não no sentido artesanal agora, mas no psicanalítico). Certa vez, uma menina me disse que quando terminou com o seu então namorado, ele virou pra ela e disse: "Você está procurando o quê? O Princípe Encantado?" Esta mesma menina ficou solteira um tempo, rodou, e no final das contas, voltou para o ex-namorado.
É, as ideias são uma coisa. A vida, meu camarada, é mais embaixo.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A maior dor do mundo

É a sua. É verdade, a maior dor do mundo é a sua. Não sei se é egoísmo, se pretensão, se arrogância. Mas a maior dor do mundo é a sua. Pode ser uma dor de cotovelo, uma dor de dente, uma dor de cabelo, mas a sua é maior do que a dor dos outros. Ninguém sofre como você. Ninguém tem uma dor como a sua. A deles pode ser uma doença terminal, uma deficiência física ou mental, mas é deles, não é a sua. Não adianta nem relativizar, nem contextualizar, a sua é maior. E não me venha com essa de que não sabe do que eu estou falando. Sem aquela história de “não, comigo tá tudo bem, você que é um maluco pessimista e depressivo”. Aqui, não. Eu não estou falando sobre mim, é sobre você. Mas quer um conselho? Ela só é grande porque é sua. No fundo, ela é pequena como todas as outras. Mas talvez você nunca entenda isso.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A obrigatoriedade do papel

Eu não consigo encontrar nenhum argumento além do corporativismo para justificar qualquer queixa em relação à medida do Supremo que acabou com a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. Todos os outros são absolutamente falhos. O mais corriqueiro e conspiratório é o de que foi uma manobra do Governo para enfraquecer a mídia, e assim, diminuir a fiscalização e oposição a ele, Governo. O que faz um jornal ser bom não são regulamentações do Governo. O que faz um jornal ou qualquer outra empresa boa é a concorrência. Outro dia, bati boca com uns manifestantes que protestavam em frente à FGV contra o Gilmar Mendes. O argumento de um deles: se não há regulamentação para o dono do botequim vender bolinho de bacalhau, ele vai vender bolinhos podre. Respondi eu: se ele vender bolinho podre, você compra uma vez, depois que passar mal, você não compra mais e ainda fala pra todo mundo que ele vende bolinho podre. Com isso, ele vai à falência. Coloque-se na posição de um dono de jornal: se há um cara formado em Letras, que apura e escreve muito bem, você não pode contratá-lo por uma imposição do Governo? O Cuenca é um ótimo exemplo disso. É formado em Economia e escreve muito melhor do que a grande maioria dos jornalistas.
Quem conhece uma redação sabe que o grande mal das redações e a baixa qualidade da maioria dos jornais hoje não se deve ao fato de contar com não-jornalistas ali, mas o de contar com futuros jornalistas, ou seja, estagiários. Por isso mesmo que, pelo menos aqui no Rio, o único jornal que não explora mão-de-obra barata, mas sim prepara-os, não por acaso, é o melhor disparado: O Globo. Ouvi também uns desabafos do tipo: poxa, que merda, poderia ter ficado quatro anos na praia. Isso é para quem não entende (ou não entendeu) o que é a faculdade de Jornalismo. O maior mérito de uma faculdade de Jornalismo, a meu ver, é o de despertar a curiosidade e principalmente o hábito da (boa) leitura. O que faz o Jornalista escrever bem não é a faculdade, é ler compulsivamente. Por isso que, o jornalista quando trabalha com Marketing, Relações Internacionais, Economia (profissões que não precisam de diploma), seja lá o que for, ele faz bem. Aliado a um prévio conhecimento de mundo (oriundo dessa curiosidade), o jornalista devora os livros e o que mais for relacionado ao tema. Eu, como é de se perceber, tenho muito orgulho da minha formação e da maioria dos coleguinhas, que podem não ser os mais bem remunerados financeiramente, mas, geralmente, são os melhores para se sentar num bar e conversar sobre qualquer tema. Esse, aliás, é um problema do Brasil. A cultura, o conhecimento e a inteligência não são valorizados. Que o digam os professores. Ou seja, aqui, a questão é muito maior do que um papel.

domingo, 21 de junho de 2009

Querido leitor

Eu nunca escrevi um poema. Sempre quando eu tentei ler uns livros do Drummond, por exemplo, eu nunca conseguia entender. Uns versos desconexos, umas palavras sem sentido. E eu, um cara cartesiano, preciso da lógica, da ordem para entender. Eu achava a poesia uma coisa assim meio egoísta. O cara vai, faz uns versos muito mais para ele do que para o leitor, e tudo bem. E a faculdade de Comunicação me ensinou que você tem sempre que pensar no receptor para emitir uma mensagem. Aí, para escrever eu fico aqui pensando no que seria interessante para você ler. Se é sobre os protestos no Irã, se é sobre o Sarney, se é sobre o inverno que se aproxima. Mas o que eu queria mesmo era escrever sobre mim. Até porque todo o resto anda me parecendo tão superficial. Mas aí, eu que não sou poeta, se escrever uma prosa sobre o que estou sentindo, me exponho muito. A poesia tem esse dom do mistério, do espaço para interpretação. Se é que o poeta está preocupado com o outro. Até porque é ele que importa. Eu queria mesmo era falar de amor, falar dela, mas sem ser tão explícito. Sem me expor tanto. Sem dar tanta bola pra ela. Fiquei imaginando, nestes dias, a situação dos Zuenirs, Veríssimos, Dapieves. Uma vez por semana, o cara se depara com um espaço em branco e tem que escrever sobre o Irã, sobre o Sarney, sobre o inverno que se aproxima. Quantas vezes eles já não devem ter querido escrever sobre eles? Sobre a mulher que o abandonou, sobre a mulher que ele abandonou, sobre a solidão, sobre a saudade. Mas não, tem que pensar em você. Numa boa, você que se dane. E viva a poesia!

domingo, 7 de junho de 2009

O real valor das palavras

Esta é uma das raras vezes em que antes de começar o texto, eu já consegui preencher o campo do título. Talvez ele seja melhor do que a prosa que segue. De qualquer forma, é uma estratégia de marketing, de causar impacto para atrair a sua atenção a estas palavras. Pronto. Palavras, ponto-chave do texto. Esta semana, o Barack fez um dos discursos mais bonitos e revolucionários dos últimos anos. Ao começar seu pronunciamento ao mundo islâmico (como os jornais gostam de chamar, como se fosse um mundo à parte), Obama saudou-os com um ''Shalamallek'', tradicional saudação árabe que significa ''paz a todos''. À saudação inicial seguiu-se uma hora de discurso, em que o presidente dos EUA usou trechos do Alcorão, reafirmou a necessidade da criação de um Estado palestino e fez questão de negar qualquer preconceito americano em relação ao Islã, lembrando inclusive de sua origem. Para uns, um discurso histórico, um marco nas políticas internacionais. Para outros, os céticos de plantão (ao classificá-los desta maneira já deixo claro minha posição) são apenas palavras. ''Apenas'' palavras, como se elas não fossem importante. Como se o mundo, a relação humana, não se fizesse através delas. Nelson Rodrigues os taxaria de idiotas da objetividade, aqueles que mensuram as ações exclusivamente através de tratados, de ações, de gestos. Não que eles não sejam importantes, mais até do que as palavras, mas não se pode negar o valor delas. Shalamallek!

domingo, 31 de maio de 2009

Sobre a sensibilidade

Você é uma pessoa sensível? Provavelmente você responderia afirmativamente a esta pergunta. Afinal, insensível é um praticamente um xingamento. Seu insensível! É algo como ''seu frio''; ''seu sem coração''. Bem, portanto, talvez seja melhor reformular a questão e trazer algumas outras. Existem pessoas mais sensíveis do que outras? E a sensibilidade, é uma virtude? A gente pode usar o termo sensível de forma intransitiva? Ou precisamos de um complemento, do tipo sensível a alguma coisa? Ou a sensibilidade é um fim em si própria, uma característica? (Perdoe-me tantas perguntas no início do texto, mas eu vi isso no último capítulo do "Sex and the City"e achei legal. Releia o parágrafo acima pensando na voz da Carrie). Dizem que as mulheres são mais sensíveis do que os homens. Estes, se auto se declararem sensíveis já não são mais bem-vistos na mesa do boteco, segundo o Veríssimo, pelo menos, que diria que homem que é homem não tem sensibilidade. Enfim, voltemos ao significado original da palavra. Sensível, sentir, sentimento. Portanto, sensibilidade está supostamente ligada ao sentimento. Será que uma pessoa sensível é a que sente os sentimentos (é uma redundância, mas poderia ser um verso) com mais intensidade? A sensibilidade seria, na verdade, viver ou sentir a vida com mais intensidade? Sentir mais a dor, sentir mais a alegria? Será que o oposto de sensibilidade seria a mediocridade? Será que os insensíveis (esqueça o xingamento) vivem a vida numa linha reta? Dizem que a arte está diretamente ligada à sensibilidade. Na composição de uma música, na escritura de um romance, na pintura de um quadro, numa cena de teatro. E para os não-artistas, como podem aplicar a sensibilidade? Um burocrata, de escritório, numa planinha do Excel? Um matemático numa conta de Baskara? Bem, achar a definição de sensibilidade eu não consegui, mas a de arte eu acho que é essa: expressar a sensibilidade. Sorte a deles.

domingo, 10 de maio de 2009

Fora de foco



Recentemente, o Fernando Calazans, colunista de Esportes do Globo, escreveu um artigo criticando os jogadores e técnicos de futebol pelo uso exagerado da palavra foco. ''O time está focado no adversário.''; ''Estamos muito focados para a decisão''. E por aí vai... Há, no entanto, uma justificativa para estes atletas. Como sabemos, os jogadores de futebol, principalmente os brasileiros, não têm uma grau de instrução lá muito elevado e, em consequência deste fato, não dispõem de um vocabulário muito extenso. Introdução futebolística feita (ainda que me doa um pouco falar de futebol nestes dias), o tal do foco saiu do vocabulário dos jogadores de futebol para ser a palavra da moda no Marketing e em qualquer ramo de vendas e corporações. ''Foco no cliente''; ''Foco no consumidor''; ''Foco nas vendas''. As aspas agora saem da boca dos boleiros para a dos marketeiros e afins - pessoas que, diga-se de passagem não podem se fazer valer do argumento dos jogadores de futebol quanto à má educação, pelo menos não às oportunidades -. Nada contra a utilização da palavra para aumentar as vendas, além de um certo empobrecimento da língua portuguesa, que machuca um pouco quem gosta dela. Mas talvez realmente não haja um sinônimo para foco neste caso. Concentração no cliente; atenção no consumidor; determinação nas vendas? É realmente não sei se cabem... Mas o que mais tem me incomodado ultimamente é que o foco deixou o meio corporativo para ser um adjetivo pessoal. Recentemente li um testemonial no Orkut que era mais ou menos assim: ''Fulano de tal, você é uma pessoa muito inteligente, muito legal, muito focada (...)'' Eu não sei quanto a vocês, mas me causa um certo desconforto (para sermos polidos) ver esta palavra empregada exaustivamente e desta maneira. Primeiro, um foco precisa de um objeto. Como na câmera, que, aliás, deve ter sido a origem da palavra. Você foca (calma, não estou te chamando do simpático animal, nem de estagiário de redação) em alguma coisa. No caso da câmera, numa pessoa, numa paisagem... No caso do verbo, no cliente, no trabalho, sei lá (eu não uso como verbo). Daqui a pouco ouviremos e leremos declarações do tipo: ''Maria, você é linda. Eu estou muito focado em você desde a primeira vez que te vi.'' A definição mais apropriada que ouvi sobre esta palavra veio de meu bom amigo João Vicente Duquestrada (www.sombraboa.blogspot.com): ''focar, na verdade, nada mais é do que limitar o todo''. Foco e limitação: duas palavras que têm tudo a ver neste caso.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Carta ao meu primeiro amor

...,

Estou te escrevendo esta carta para me redimir de uma fraqueza passada. Talvez se eu estivesse feito isto que estou fazendo agora a gente estaria junto há 18 anos. Nós tínhamos seis à época. Eu queria te dizer que eu te amei. Me perdoe por nunca ter te revelado isto antes, mas é que nesta idade os meninos têm um certo medo das meninas, especialmente das que a gente gosta. Por isso eu sentava tão distante de você na sala. Mas eu gostei de você desde o começo da escola. Acho que é isso o que chamam de amor à primeira vista. Você foi a única dentre todas as meninas que não chorou quando sua mãe foi embora no primeiro dia de aula. Desde então, eu sempre admirei a sua personalidade forte e a sua independência. Você não era a menina mais extrovertida da sala, tampouco a mais tímida. Mas sempre guardou no seu sorriso discreto um charme que eu passei a procurar nas meninas até hoje. Várias vezes eu tentei te impressionar, mas acho que eu nunca consegui. Claro que você não vai se lembrar, mas eu me recordo perfeitamente. Certa vez, teve uma partida de futebol contra os meninos da outra sala. Enquanto as outras meninas brincavam de queimado, você ficou vendo o futebol. Aquele foi o jogo mais importante da minha vida. Você comemorando quando eu marquei um gol foi a grande emoção da minha infância até eu ganhar um Atari. Outro detalhe que eu lembro de você é que enquanto as outras meninas tinham mochilas cor-de-rosa, do ursinho puff, ou floridas, a sua não. A sua era azul, sem nenhuma marca. Você devia ser filha de pais alternativos, provavelmente eles devem ter curtido um nas dunas do barato... O seu cabelo era preto, liso. Você era daquelas meninas que a gente já reconhece que são bonitas, mesmo de costas, sem ter visto o rosto ainda. Eu não lembro se fui eu ou você quem saiu da escola primeiro, mas a partir dali acabou meu amor platônico por você, devido à distância e ao tempo, essa fórmula que a gente ainda não descobriu melhor para esquecer os amores. Bem, hoje em dia, você deve continuar linda, em algum lugar do mundo. Provavelmente a gente não reconheceria um ao outro. Você, eu tenho certeza que não, mas eu talvez sentisse algo diferente. De qualquer forma, eu só queria te dizer que você foi o meu primeiro amor e que eu daria tudo para lembrar o seu nome.

Com carinho,
Júlio

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O jornal e a noite


Eu sou um cara meio metódico. Meio não. Bem metódico. Ao acordar, gosto de pensar no que vou fazer ao longo do dia, mesmo nos fins de semana. Por exemplo, não importa o que eu faça à tarde, eu tenho que ter um tempo disponível para dormir depois do almoço. É nessa hora que eu leio o jornal (daí vem a origem do sono vespertino). Mas mesmo para um ser metódico como eu, durante o dia ocorre o imprevisível. Um encontro que você não esperava, uma noitada que você não tinha programado, enfim... Tem uma coisa, no entanto, que eu não consigo mudar: eu não consigo ler o jornal antes de dormir (à noite). Eu acho que o jornal e a noite não combinam. Não é pelo fato de as notícias já estarem velhas, e ser mais fácil se atualizar pela internet. Pelo contrário, eu prefiro mil vezes a notícia impressa. É que eu acho que o jornal, esse papel pardo cheio de letrinhas, é a expressão da realidade, de uma certa frieza, do cru. E a noite, não. A noite representa o onírico, a véspera do sonho, a imaginação. A cor da noite contrasta com a cor do jornal. A noite pede um livro, um filme, uma cerveja. Todos alucinógenos. E o jornal é a contraposição a isso tudo. O jornal é o careta, é o sal de frutas, é o... dia seguinte.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Big Brother Botafogo


Bem, este texto como o próprio título sugere não deve atrair muito a atenção dos leitores deste blog. Segundo estimativas não oficiais, apenas 10% dos intelectuais brasileiros assistem ao BBB. E para ler este blog, diga-se de passagem, há de ser um intelectual para compreender a complexidade dos temas abordados! Já os botafoguenses (com muito orgulho) somos menos de 10% da população. Portanto, segundo a regra matemática da probabilidade, menos de 5% dos leitores são botafoguenses e assistem ao BBB (se bem que a maioria dos intelectuais é botafoguense e vice-versa...). Enfim... Eu vejo no BBB um espelho do país e um campo de reflexão para a nossa sociedade. Justifico-me: o IBGE e o IBOPE juntos não devem atingir 3% da população em suas pesquisas, o BBB, por outro lado, abrange 70% dos brasileiros. E grande parte destes participa ativamente do mesmo, votando. Vou citar um exemplo concreto: a vitória do Jean Willis (aquele professor homossexual) mostrou que a população vem superando preconceitos, afinal quem imaginaria um gay campeão do BBB? (quem dissertou sobre esta teoria foi o antropólogo Roberto da Matta, um dos poucos intelectuais que assiste ao reality). Nesta edição, a Ana (a loira chorona) permaneceu invicta em sete paredões. Ela era, para mim, a personificação do ''Complexo de vira-latas'', do Nelson Rodrigues. Era a única explicação para o povo não tirar ela da casa. Como dizia o escritor, o brasileiro gosta do coitadinho, do fraco, do sem-confiança. Aí veio o Max, o ''arrogante''. O cara que batia no peito e falava ''eu sou o cara'' (como um certo Baixinho, que a imprensa também sempre considerou prepotente, mas que de fato era ''o cara''). Além do carisma, o Max tinha essa qualidade do ''confiante'', do ''vamo que vamo''. E a vitória dele me mostrou uma certa mudança de percepção do brasileiro, de admirar, sim, a confiança, a segurança. E por que não? Acreditar em si, enfim... Bem, o paralelo entre o BBB e o Botafogo é o seguinte: O Botafogo também tem esta sina de ser o coitadinho, o sofredor, o pessimista, como dizia o mesmo Nelson: ''Ponham uma barba postiça num torcedor do Botafogo, deem-lhe óculos escuros, raspem-lhe as impressões digitais e, ainda assim, ele será inconfundível. Por quê? - há, no alvinegro, a emanação específica de um pessimismo imortal (...)'' Portanto, chegou a hora de mudar isso. Assim como quis o povo brasileiro neste BBB, que ganhasse o confiante, o cheio de si, o otimista. Neste Estadual, se Deus quiser, o Botafogo também chutará, literalmente, este pessimismo para a rede do Fla. Ah, o Botafogo também tem outra característica que lhe é inerente: a superstição. E o Max, quem diria, é botafoguense! Vamo que vamo!!

domingo, 5 de abril de 2009

Sugestão de monografia a um amigo sociólogo

O porteiro é, entre todas as atividades profissionais, o trabalhador que mais pensa. Não em termos intelectuais, mas estatísticos. Você já deve ter tido a experiência de trabalhar em lugares onde você fica tão ocupado durante o expediente, que quando vê, já está na hora de arrumar suas coisas e ir embora. Por outro lado, há certos trabalhos no quais você não faz lá muita coisa, enrola mais do que trabalha. Quem já trabalhou ou trabalha no serviço público sabe bem do que estou falando. Nestas, desculpem o chavão, o tempo não passa. A cabeça, em compensação, está longe do escritório e dos papos irrelevantes do chefe. A profissão de porteiro enquadra-se nesta segunda definição. Num turno de oito horas, somando-se o aperto de botões para abrir e fechar o portão e eventuais ''interfonemas'', o total de trabalho efetivo deve dar uns 20 minutos. Ou seja, nas outras 7 horas e quarenta minutos, ele pensa. Sortudos aqueles que não são proibidos pelos síndicos de ouvir o tradicional radinho de pilha, com as notícias diárias do futebol. Ah, o porteiro também tem essa atributo voluntário, de informar o resultado dos jogos quando você está na rua. Bem, o porteiro é definitivamente uma profissão que me intriga. Talvez motivado pelo fato de eu morar em Copacabana, princesinha do mar. Mar de prédios. Já escrevi certa vez sobre minha curiosidade pelo fato de não existirem porteiros mulheres. Em oito meses nos EUA, não vi um sequer, e olha que eu visitei diversas cidades. Por sinal, não sei nem como se fala porteiro em inglês (suspeito que seja doorman). À Europa eu nunca fui, mas a reação irônica de um colega de classe francês quando eu descrevi a função, já que não sabia a palavra, me indica que eles também não têm. Parece que na África, por outro lado, eles, os porteiros, estão lá. Definitivamente, existe uma relação econômica nisso. Assim como o caso das empregadas domésticas, que são privilégios de países subdesenvolvidos. Além, penso eu, de o porteiro ter uma certa função de vigia nestes países que convivem diariamente com a violência. O porteiro é, a meu ver, uma profissão menosprezada pelos antropólogos e sociólogos brasileiros para um melhor entendimento da cultura tupiniquim. Pode-se através deles, por exemplo, analisar o ciclo migratório nordeste-sudeste; um certo machismo enrustido do brasileiro, já que não existem mulheres nesta atividade; o futebol como integração entre as classes sociais. Enfim, vários aspectos. Portanto, Daniel, caro amigo, fica aqui minha sugestão de monografia. Sem royalties.

domingo, 29 de março de 2009

Se é que algum advogado lê este blog



Puxo conversa com o vizinho só para quebrar aquele constrangedor silêncio de elevador. As únicas coisas que eu sei sobre o meu xará de endereço é que ele luta jiu-jitsu e estuda Direito. Como a primeira atividade não me interessa muito, pergunto:
- E aí, cara, e a faculdade como tá?
- Tô gostando. Vou prestar concurso público.
- Ah, maneiro.
(Chegamos ao térreo)
- Valeu.
- Falou.
Fico eu cá com meus botões: existe alguém que estuda Direito que não queira fazer concurso público? Você já conversou com alguém que fale do Direito de maneira apaixonada? Acho que todo mundo já pensou quando criança em ser advogado. Mais por causa do dinheiro (até no Banco Imobiliário era a profissão que ganhava mais) e em menor escala pelos filmes hollywoodianos. Num país onde a Justiça praticamente não funciona, em todas as esferas, o que leva alguém a estudar Direto sem pensar no lado econômico? Não que isto seja pecado, mas com certeza, é o fator preponderante, para não dizer exclusivo. Acho isso um pouco frustrante, ao menos quando você tem 17, 18 anos. Juro que gostaria de ouvir de algum estudante de Direito (conheço poucos, confesso) falando que quer estudá-lo para mudar, ou pelo menos, tentar melhorar o sistema jurídico brasileiro. Mas não. O objetivo é sempre o tal do concurso público. O famoso ''mamar nas tetas do governo''. Daniel Dantas, Pimenta Neves, Renan Calheiros, Collor, entre muitos outros, são provas de que a Justiça neste país é praticamente nula, bem como o sistema político. Fico imaginando o quão frustrante deve ser para a Polícia Federal e, em seguida, para os promotores dos casos em conseguir condenar estas pessoas e vê-los por aí, impunes, em suas festas nababescas, e pior ainda, de volta à vida política. E não me venha com essa história de que a Justiça fez a parte dela, porque cabe à Justiça além de julgar, condenar os réus. Não é só com os ''peixes grandes'', no entanto, que a Justiça tarda (para sermos generosos). Tenho um caso na minha família, que talvez seja um dos motivos para minha ojeriza à Justiça. Minha avó, quando era viva, quebrou o fêmur ao tropeçar num degrau dentro da Caixa Econômica Federal. Ficou constatado por peritos que o tal degrau não deveria estar ali. Ganhamos a causa no mesmo ano. Após inúmeros recursos da Caixa, nove anos depois (!), recebemos a indenização, quando ela já havia falecido há tempos. Nove anos para resolver um caso desses? Imagina por quantas pessoas diferentes este processo passou. Não estou fazendo um protesto contra a profissão de advogado, que é uma das mais antigas e importantes para a soberania de um país. Mas, acho sim, que eles (advogados) também têm parcela de culpa no fato de a Justiça neste país ser tão incompetente. Pois, ao invés, de tentar melhorá-la, ao passar no tão sonhado concurso público, se adaptam e se acomodam a ela, como é característico de todo cargo público. Tudo bem que o Direito, por preceitos, não deva ser uma profissão em que a emoção e paixão preponderem. Mas a frieza e a rigidez, como disse o Bial, são características da morte. Espero que a Justiça não chegue a tanto.

sábado, 21 de março de 2009

Um convite forçado ao universo feminino

Escritoras, perdoem-me, mas este texto é uma crítica a vocês. Construtiva, porém, eu juro. Deixa eu tentar me explicar da melhor maneira antes que eu perca leitoras e amigas. Acho que há no universo da literatura feminina um certo preconceito e restrição contra nós, homens. Talvez vocês façam sem perceber, ou talvez pensem que nós, trocadores de lâmpadas, não mereçamos suas palavras (se escolheram a segunda opcão, por favor, ignorem este texto). Estou me referindo ao fato de a grande maioria dos textos escritos por mulheres serem, quase que exclusivamente, destinados às mulheres. Muitas vezes nós somos os temas: o cara que te largou e por quem você está sofrendo; um amor passado; a saudade. A minha impressão (a minha, que fique claro) é que por trás destes textos há uma mensagem do tipo: mulheres do mundo, uni-vos. Ou menos pretensiosamente: um conselho ou sentimento no qual outra mulher se identificará. Às vezes é meio chato para nós, zé cuecas, ler sobre estes temas. O que talvez vocês não tenham percebido é que é possível escrever sobre sentimentos narrando situações cotidianas, que são mais abrangentes e nos permitem também compartilhá-las. E com um toque feminino, que deixa tudo mais bonito. Tem um texto da Danuza Leão, chamado "Um casal feliz", sobre um casal comprando uma echarpe numa loja em Paris, que é tão delicado e doce que só poderia ser escrito sob um olhar e uma percepção feminina. Esta crônica da Danuza está nos ''As cem melhores crônicas brasileiras". Destas cem, creio que menos de dez são de autoria feminina. Assim como no O Globo, onde dos sete cronistas do segundo caderno, só um é mulher: a Cora, que, diga-se de passagem, é uma chata, mas tem a virtude de não restringir o público-alvo, ao contrário da Martha Medeiros, que conheço pouco, confesso, mas deve ter entre os seus leitores 90% de mulheres. Bem, depois de morder tanto, deixa eu assoprar um pouco. Como fã da maneira e da sutileza como vocês, mulheres, escrevem, gostaríamos (a terceira pessoa refere-se à classe masculina, já que este texto é um certo duelo de gêneros) de participar mais das suas ideias. Nos sentirmos um pouco mais, digamos, lembrados. Claro, isso se não for pedir muito.

terça-feira, 10 de março de 2009

A Igreja e a ignorância



Não vou desperdiçar meu tempo escrevendo sobre o arcebispo de Olinda que excomungou os médicos - e não o estuprador - que fizeram o aborto numa menina de nove anos porque acho que criticá-lo é empurrar bêbado na ladeira, como se diz por aí. Mas o fato é que já passou da hora de a Igreja ter menos voz e causar menos repercussão no mundo e principalmente no Brasil, onde ainda (infelizmente) exerce forte influência. O Obama, nos Estados Unidos, onde a instituição também é poderosa, acaba de ignorá-la ao autorizar o financiamento público para pesquisas com célula-tronco. Coisa, diga-se de passsagem, que o Brasil já faz há dois anos. Por outro lado, há pouco tempo quando o bravo ministro Temporão disse que já havia passado a hora de discutir-se o aborto como questão de saúde pública e não como caso de polícia foi um Deus nos acuda (literalmente). A Igreja, a meu ver, não é má e não tem interesses obscuros por trás de suas ideologias. É porque é ignorante mesmo. Ignorância na acepção da palavra. Ignora a evolução da Humanidade, ignora a Ciência. Não só as Ciências exatas (se é que posso chamá-las genericamente desta maneira), mas as Humanas também. Ignora a Sociologia, a Antropologia, a Psicologia. Eles pararam na Bíblia. Que foi escrita há não sei quantos séculos. Não tenho nada contra ela, traz ensinamentos e lições de vida enriquecedoras. Assim como a Mitologia Grega, por exemplo. Mas eu duvido que os cardeais e bispos tenham lido os grandes pensadores atuais, e que leiam jornais e revistas diariamente. Os que o fazem devem fazer com um olhar tão cético e conservador que não deduzem nada a partir destas leituras. Devem pensar o tempo todo ''nossa, que heresia''. Além do que, para conhecer a sociedade e suas transformações é necessário andar por ela e não ficar trancafiado em templos e igrejas. Para dar mais crédito ao que estou falando, não acho que a Religião seja o ópio do povo. Acho que você pode ter a sua fé, mas saber relativizar as doutrinas. O contrário é o extremismo, que não obstante leva à ignorância, em todos os casos. E, penso eu, que a ignorantes não deveríamos dar tanto ouvido.

terça-feira, 3 de março de 2009

A (para) quem interessar

O maior desafio de um escritor e de um jornalista, depois claro de pensar numa boa história, é escolher as palavras exatas (precisas) para compô-la. Acho que é isso que faz um escritor ou mesmo um jornalista melhor do que o outro, entre outros aspectos, claro. Ao longo deste texto, tentarei mostrar (exemplificar) o dilema que ronda minha cabeça na escolha de palavras e pela qual todos que escrevem devem passar. As que estão entre parênteses são as que fiquei em dúvida entre a própria e a que a antecede. Por exemplo, a primeira frase deste texto poderia ser: O grande desafio de quem escreve, após logicamente elaborar o texto, é achar as palavras certas para fazê-lo. O texto é a junção (união) de palavras. Para fazê-lo (escrevê-lo) bem, é necessário ter um repertório grande delas e também saber o significado exato das mesmas. Há dois exemplos ou contra-exemplos disso. Eu achava que uma cidade cosmopolita era uma cidade que exportava seus costumes. Quando não é. Já o Dan achava que quando uma coisa aumenta sensivelmente queria dizer um aumento sensível, pequeno. O que apesar de fazer lógica, também não é. Por isso sou contra palavras genéricas, como por exemplo, coisa; tipo; isso. Ex: O ministro anunciou, entre outras coisas, a reforma do hospital. Por que não, ''o ministro anunciou, entre outras medidas, a reforma do hospital?'' Ou se não forem medidas: O ministro anunciou a reforma do hospital, além de... O grande (bom) escritor é aquele que sabe exatamente dar emprego a determinada palavra em determinada situação. E é o que eu espero e tento me aproximar de fazer algum dia. Um outro exemplo que pode parecer bobo (raso), mas do qual me recordo até hoje: no primeiro período da faculdade, a professora de Gramática estava justamente explicando a diferença entre as palavras, e que não existem palavras que querem dizer exatamente a mesma coisa que outras. Senão, não haveria o porquê de existir mais de uma. O exemplo que ela deu foi o seguinte: Se a secretária deixa na mesa do chefe um bilhete escrito “importante” e outro com o título “imprescindível”, qual dos dois você lerá primeiro?Acho eu que usar linguagem rebuscada não compõe (faz) necessariamente um bom texto. Sou daqueles que preferem a linguagem mais simples, porque, afinal, para mim ao menos, o principal objetivo de um texto é passar a mensagem; ou seja, fazer a comunicação emissor-receptor. Por isso, sou fã de Machado e Nélson Rodrigues e não consegui ler “Grande Sertão Veredas”, de Guimarães Rosa. Para compor (redigir) um bom texto também é saber bem usar vírgulas, pontos, travessões e aspas, das quais sou fã. Mas isso fica (deixa) pra próxima.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Com conhecimento de causa




Desde que entrei na faculdade de Jornalismo, sempre ouvi dos professores e de eventuais palestrantes que esta era uma profissão na qual trabalhava-se muito e ganhava-se pouco. Eu, movido por um certo desejo adolescente de transformar o mundo e também pelo fato de o Jornalismo trabalhar com a verdade e a Publicidade com a mentira (este era o meu discurso aos meus colegas de classe), nunca dei muita bola. Mas agora que a realidade bate à porta, eu vejo que não é todo mundo que vai ser um William Bonner. E acho que estamos, nós, jornalistas, numa fase especialmente complicada.
Pensava-se que a internet traria um certo boom para o Jornalismo. Na publicação gratuita online, os anúncios dariam o retorno esperado. Já deu para notar que não é bem assim. Agora são os jornais impressos que também estão seguindo esta tendência. No metrô, por exemplo, quase ninguém mais lê os ''jornalões''. Todo mundo só lê os gratuitos: Destak e Metro. Além de serem jornais extremamente superficiais, eles estão fazendo com que os outros percam muito de seus leitores. Já não bastassem os virtuais.
O fenômeno da crise no Jornalismo não é só tupiniquim. Nos Estados Unidos, vários jornais pediram concordata e muitos outros ajuda ao Governo para não quebrarem. Tudo bem, é a crise. Mas isto já era anterior a ela. Outro receio dos americanos é a popularização do tal do Kindle, uma espécie de Ipod de livros e jornais, no qual você baixa qualquer produto literário. A pergunta que eles se fazem lá é a seguinte: para mandar mensagens de texto gasta-se US$ 0,20, mas comprar uma notícia ninguém quer? O mais curioso é que, segundo uma pesquisa, o número de leitores não para de crescer. O mesmo provavelmente acontece aqui no Brasil.
A decadência do Jornalismo é uma ameaça à democracia. No Rio, por exemplo, excetuando-se as organizações Globo nenhum outro veículo dá condições boas de trabalho a seus jornalistas. O que em si já é temeroso pelo fato de um veículo de comunicação ter o monopólio da informação (se não por direito, por estrutura). O JB, por exemplo, tido como o segundo maior jornal do estado, manda estagiário cobrir o Lula quando vem ao Rio. É difícil imaginar uma pergunta ''melindrosa'' vinda de um estagiário. Não por falta de competência, mas de experiência mesmo.
O Jornalismo tem que se reinventar, ou melhor, inventar uma maneira de ganhar dinheiro. Os artistas não reclamam que suas obras são baixadas de graça e eles não ganham com isso? E os jornalistas, por que temos que dar nossos produtos?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Amor rodriguiano



Terminei de ler recentemente ''Meu destino é pecar", do Nelson Rodrigues. Nele, duas irmãs disputam o amor de Maurício, que, segundo o autor, é um homem absolutamente irrestível. Não só elas, mas praticamente todas as mulheres envolvidas na trama se apaixonam por ele. Algumas, ao primeiro olhar. Neste romance tipicamente rodriguiano (sempre quis usar este termo, o que me confere um certo status de especialista em sua obra, mesmo tendo lido apenas dois livros dele) não só as duas irmãs, como as outras mulheres, e o próprio Maurício, estão dispostos a matar ou morrer por amor. Soa clichê, não? E é. Mas o que sempre me chama atenção nos romances do Nelson, além do jeito de escrever absolutamente simples e bem amarrado, é a intensidade com que ele trata o amor, que, não por acaso, muitas vezes acaba em morte. Ao que chamam comumente de morte passional. Na música, consigo traçar um paralelo na forma como o escritor trata este sentimento, com o Cazuza e com o Los Hermanos. Claro que há vários outros, mas estes são os que me vem à cabeça quando o tema é o amor, ou a falta dele, ou melhor, a perda dele, nesta forma tão intensa, que só encontra consolo na morte, na própria ou na do outro. "Eu nunca mais vou respirar se você não me notar, eu posso até morrer de fome se você não me olhar(....)''. Ou alguma do Los Hermanos que agora eu não vou lembrar, que trata o amor desta maneira. No Cinema, acho que o Almodóvar também faz esta ligação. No Fale com ela, por exemplo. É engraçado, ou curioso, como a ficção de uma forma geral, utiliza-se deste recurso; desta relação amor-morte, que na vida real não acontece tão frequentemente assim. As exceções saem no jornal. Não sei exatamente o motivo. Talvez desta forma, o autor, ou os autores no caso, demonstrem um sentimento que gostariam de expressar na vida real, mas que o super ego reprime. Ou talvez seja um exagero, uma figura de linguagem (hipérbole??) permitida pela ficção, já que o Cazuza provavelmente não iria morrer se ela (ou ele) não olhasse pra ele. Sei lá. O fato é que esta consequência amor e morte dá audiência, vide as novelas da Globo. Eu honestamente prefiro o Cazuza quando ele diz que ''o nosso amor a gente inventa pra se distrair e quando a acaba a gente pensa que ele nunca existiu.'' Ou melhor ainda o Renato, para quem ''a vida continua e se entregar é uma bobagem''.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

No Circo até a BOPE treme


Segunda-feira, 26 de janeiro. Show da Orquestra Imperial no Circo, não deixando qualquer dúvida de que no Rio já é carnaval (não me diga mais quem é você, amanhã tudo volta ao normal(...))! Depois das tradicionais marchinhas e sambas que animam um público de gente bonita e interessante, em sua maioria, oriunda da classe média e ''pensante'' do Rio de Janeiro (até o Caetano marcou presença), entra no palco, para delírio da galera, DJ Marlboro, entidade máxima do funk carioca. Logo, a primeira música que o Marlborão manda: Rap das Armas. Aquela assim:

Morro do Dendê é ruim de invadir. Nois, com os Alemão, vamo se diverti. Porque no Dendê eu vo dizer como é que é. Aqui não tem mole nem pra DRE. Pra subir aqui no morro até a BOPE treme. Não tem mole pro exército civil nem pra PM. Eu dou o maior conceito para os amigos meus. Mas Morro Do Dendê Também é terra de Deus ParapapapapapapapapaParapapapapapapapapaPaparapaparapapara clack bumParapapapapapapapapa
(sic)

Aquela mesma rapaziada, interessante, educada nos melhores colégios e faculdades da cidade canta como se fosse o hino de seu clube do coração. Sabem a letra do início ao fim, inclusive a parte em que ele cita várias armas: ''vem de stratek, pisto-uzi(...)'' Eu estou neste meio, sei grande parte da letra, não nego. Até por isso, me sinto à vontade para comentar este fascínio que a nossa geração tem com a violência das favelas. Fascínio este que se deu em grande parte ao funk, não que este seja culpado (calma, Hermano Vianna), mas, inegavelmente, este ritmo que faz até os mais duros requebrarem contribiuiu para esta ponte asfalto-favela, que tem vários aspectos positivos e alguns, sim, negativos, como, por exemplo, uma certa complacência com o crime organizado, típico do jeito mambembe carioca. Daí o sucesso de filmes, como Cidade de Deus, Cidade dos Homens e que culminou com o sanguinolento e inútil Tropa de Elite. Fico imaginando se o Sergio Cabral ou o Beltrami, responsáveis diretos pela Segurança Pública do estado, vão ao Circo e veem a classe média, justamente a que mais reclama da violência da cidade, cantando que no Morro do Dendê até a BOPE treme... E ainda tem aqueles que levantam os dedos pro alto simulando fuzis. Não quero bancar o hipócrita, até porque quando a música tocar de novo, não vou ficar de braços cruzados, mas que vale uma reflexão, vale. Pelo menos um texto valeu.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Pelé e Machado


Os saudosistas do futebol dizem que nunca haverá outro Pelé, ou outro jogador melhor do que ele. Eu nunca entendi essa pessimista previsão. Afinal, por que não pode surgir um moleque, numa favela qualquer ou ainda num campo de várzea da Itália, ou da Argentina, ou do Quênia, com o dom e a habilidade de jogar futebol tão magistralmente ou até melhor do que o Rei do futebol? Dizem, eles os ''sábios'' comentaristas que os tempos são outros, o futebol é mais viril e outros argumentos do gênero. Mas o comentário sempre começa da mesma forma: ''os tempos são outros...'' Por que não, pergunto eu, para melhor? Com mais preparo físico, com uma medicina mais avançada, além do que futebol, desde que se chama assim, são 11 contra 11. Mas, enfim, o exemplo do Pelé foi dado para chegar ao ponto central do pensamento que quero compartilhar. Enquanto no futebol, o fator preponderante para alcançar o sucesso ou a excelência é o dom (claro que fatores como o esforço, as oportunidades e até sorte contam), no caso da Literatura, por outro lado, o fator determinante para tornar-se um célebre é o esforço individual. Em linhas gerais, a leitura faz com que isso aconteça. Para mim, além da sensibilidade (que também é crucial) o grande escritor é o cara que lê obstinadamente. Aí que mora o meu receio. Atualmente, o leque de concorrência (palavra bem atual) para a leitura é vasto. Televisão, orkut, msn, celular faz com que leia-se cada vez menos. Tudo bem, o Machado, por exemplo, devia lá jogar o seu pião, soltar pipa, sei lá. Mas, com certeza, dedicava mais tempo à leitura, justamente (segundo, claro, a minha modesta teoria de botequim) por falta dos entretenimentos modernos. Aí que está, acho difícil que alguém um dia venha a escrever como Machado. Ou Nelson, ou Graciliano... Infelizmente. Eu, por exemplo, adoro ler. Dedico boa parte do meu tempo a esta atividade. Por prazer mesmo. Mas, pô, eu também curto (e não nego) orkut e msn. E ainda tem o Arena Sportv... Eu acho bem possível que surja outro Pelé (se Deus quiser no Botafogo) mas outro Machado, eu acho difícil. Tudo bem que o Cuenca é legalzinho...

Páginas