terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Amor rodriguiano



Terminei de ler recentemente ''Meu destino é pecar", do Nelson Rodrigues. Nele, duas irmãs disputam o amor de Maurício, que, segundo o autor, é um homem absolutamente irrestível. Não só elas, mas praticamente todas as mulheres envolvidas na trama se apaixonam por ele. Algumas, ao primeiro olhar. Neste romance tipicamente rodriguiano (sempre quis usar este termo, o que me confere um certo status de especialista em sua obra, mesmo tendo lido apenas dois livros dele) não só as duas irmãs, como as outras mulheres, e o próprio Maurício, estão dispostos a matar ou morrer por amor. Soa clichê, não? E é. Mas o que sempre me chama atenção nos romances do Nelson, além do jeito de escrever absolutamente simples e bem amarrado, é a intensidade com que ele trata o amor, que, não por acaso, muitas vezes acaba em morte. Ao que chamam comumente de morte passional. Na música, consigo traçar um paralelo na forma como o escritor trata este sentimento, com o Cazuza e com o Los Hermanos. Claro que há vários outros, mas estes são os que me vem à cabeça quando o tema é o amor, ou a falta dele, ou melhor, a perda dele, nesta forma tão intensa, que só encontra consolo na morte, na própria ou na do outro. "Eu nunca mais vou respirar se você não me notar, eu posso até morrer de fome se você não me olhar(....)''. Ou alguma do Los Hermanos que agora eu não vou lembrar, que trata o amor desta maneira. No Cinema, acho que o Almodóvar também faz esta ligação. No Fale com ela, por exemplo. É engraçado, ou curioso, como a ficção de uma forma geral, utiliza-se deste recurso; desta relação amor-morte, que na vida real não acontece tão frequentemente assim. As exceções saem no jornal. Não sei exatamente o motivo. Talvez desta forma, o autor, ou os autores no caso, demonstrem um sentimento que gostariam de expressar na vida real, mas que o super ego reprime. Ou talvez seja um exagero, uma figura de linguagem (hipérbole??) permitida pela ficção, já que o Cazuza provavelmente não iria morrer se ela (ou ele) não olhasse pra ele. Sei lá. O fato é que esta consequência amor e morte dá audiência, vide as novelas da Globo. Eu honestamente prefiro o Cazuza quando ele diz que ''o nosso amor a gente inventa pra se distrair e quando a acaba a gente pensa que ele nunca existiu.'' Ou melhor ainda o Renato, para quem ''a vida continua e se entregar é uma bobagem''.

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