terça-feira, 27 de janeiro de 2009

No Circo até a BOPE treme


Segunda-feira, 26 de janeiro. Show da Orquestra Imperial no Circo, não deixando qualquer dúvida de que no Rio já é carnaval (não me diga mais quem é você, amanhã tudo volta ao normal(...))! Depois das tradicionais marchinhas e sambas que animam um público de gente bonita e interessante, em sua maioria, oriunda da classe média e ''pensante'' do Rio de Janeiro (até o Caetano marcou presença), entra no palco, para delírio da galera, DJ Marlboro, entidade máxima do funk carioca. Logo, a primeira música que o Marlborão manda: Rap das Armas. Aquela assim:

Morro do Dendê é ruim de invadir. Nois, com os Alemão, vamo se diverti. Porque no Dendê eu vo dizer como é que é. Aqui não tem mole nem pra DRE. Pra subir aqui no morro até a BOPE treme. Não tem mole pro exército civil nem pra PM. Eu dou o maior conceito para os amigos meus. Mas Morro Do Dendê Também é terra de Deus ParapapapapapapapapaParapapapapapapapapaPaparapaparapapara clack bumParapapapapapapapapa
(sic)

Aquela mesma rapaziada, interessante, educada nos melhores colégios e faculdades da cidade canta como se fosse o hino de seu clube do coração. Sabem a letra do início ao fim, inclusive a parte em que ele cita várias armas: ''vem de stratek, pisto-uzi(...)'' Eu estou neste meio, sei grande parte da letra, não nego. Até por isso, me sinto à vontade para comentar este fascínio que a nossa geração tem com a violência das favelas. Fascínio este que se deu em grande parte ao funk, não que este seja culpado (calma, Hermano Vianna), mas, inegavelmente, este ritmo que faz até os mais duros requebrarem contribiuiu para esta ponte asfalto-favela, que tem vários aspectos positivos e alguns, sim, negativos, como, por exemplo, uma certa complacência com o crime organizado, típico do jeito mambembe carioca. Daí o sucesso de filmes, como Cidade de Deus, Cidade dos Homens e que culminou com o sanguinolento e inútil Tropa de Elite. Fico imaginando se o Sergio Cabral ou o Beltrami, responsáveis diretos pela Segurança Pública do estado, vão ao Circo e veem a classe média, justamente a que mais reclama da violência da cidade, cantando que no Morro do Dendê até a BOPE treme... E ainda tem aqueles que levantam os dedos pro alto simulando fuzis. Não quero bancar o hipócrita, até porque quando a música tocar de novo, não vou ficar de braços cruzados, mas que vale uma reflexão, vale. Pelo menos um texto valeu.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Pelé e Machado


Os saudosistas do futebol dizem que nunca haverá outro Pelé, ou outro jogador melhor do que ele. Eu nunca entendi essa pessimista previsão. Afinal, por que não pode surgir um moleque, numa favela qualquer ou ainda num campo de várzea da Itália, ou da Argentina, ou do Quênia, com o dom e a habilidade de jogar futebol tão magistralmente ou até melhor do que o Rei do futebol? Dizem, eles os ''sábios'' comentaristas que os tempos são outros, o futebol é mais viril e outros argumentos do gênero. Mas o comentário sempre começa da mesma forma: ''os tempos são outros...'' Por que não, pergunto eu, para melhor? Com mais preparo físico, com uma medicina mais avançada, além do que futebol, desde que se chama assim, são 11 contra 11. Mas, enfim, o exemplo do Pelé foi dado para chegar ao ponto central do pensamento que quero compartilhar. Enquanto no futebol, o fator preponderante para alcançar o sucesso ou a excelência é o dom (claro que fatores como o esforço, as oportunidades e até sorte contam), no caso da Literatura, por outro lado, o fator determinante para tornar-se um célebre é o esforço individual. Em linhas gerais, a leitura faz com que isso aconteça. Para mim, além da sensibilidade (que também é crucial) o grande escritor é o cara que lê obstinadamente. Aí que mora o meu receio. Atualmente, o leque de concorrência (palavra bem atual) para a leitura é vasto. Televisão, orkut, msn, celular faz com que leia-se cada vez menos. Tudo bem, o Machado, por exemplo, devia lá jogar o seu pião, soltar pipa, sei lá. Mas, com certeza, dedicava mais tempo à leitura, justamente (segundo, claro, a minha modesta teoria de botequim) por falta dos entretenimentos modernos. Aí que está, acho difícil que alguém um dia venha a escrever como Machado. Ou Nelson, ou Graciliano... Infelizmente. Eu, por exemplo, adoro ler. Dedico boa parte do meu tempo a esta atividade. Por prazer mesmo. Mas, pô, eu também curto (e não nego) orkut e msn. E ainda tem o Arena Sportv... Eu acho bem possível que surja outro Pelé (se Deus quiser no Botafogo) mas outro Machado, eu acho difícil. Tudo bem que o Cuenca é legalzinho...

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