domingo, 21 de junho de 2009

Querido leitor

Eu nunca escrevi um poema. Sempre quando eu tentei ler uns livros do Drummond, por exemplo, eu nunca conseguia entender. Uns versos desconexos, umas palavras sem sentido. E eu, um cara cartesiano, preciso da lógica, da ordem para entender. Eu achava a poesia uma coisa assim meio egoísta. O cara vai, faz uns versos muito mais para ele do que para o leitor, e tudo bem. E a faculdade de Comunicação me ensinou que você tem sempre que pensar no receptor para emitir uma mensagem. Aí, para escrever eu fico aqui pensando no que seria interessante para você ler. Se é sobre os protestos no Irã, se é sobre o Sarney, se é sobre o inverno que se aproxima. Mas o que eu queria mesmo era escrever sobre mim. Até porque todo o resto anda me parecendo tão superficial. Mas aí, eu que não sou poeta, se escrever uma prosa sobre o que estou sentindo, me exponho muito. A poesia tem esse dom do mistério, do espaço para interpretação. Se é que o poeta está preocupado com o outro. Até porque é ele que importa. Eu queria mesmo era falar de amor, falar dela, mas sem ser tão explícito. Sem me expor tanto. Sem dar tanta bola pra ela. Fiquei imaginando, nestes dias, a situação dos Zuenirs, Veríssimos, Dapieves. Uma vez por semana, o cara se depara com um espaço em branco e tem que escrever sobre o Irã, sobre o Sarney, sobre o inverno que se aproxima. Quantas vezes eles já não devem ter querido escrever sobre eles? Sobre a mulher que o abandonou, sobre a mulher que ele abandonou, sobre a solidão, sobre a saudade. Mas não, tem que pensar em você. Numa boa, você que se dane. E viva a poesia!

5 comentários:

Nathalia Jordão disse...

Lindo, como sempre! Amo seus textos, juro.
Beijo

Carambolices disse...

O grande medo de se expôr... Para mim, é o medo do ridiculo... De não ser aceito, dela perceber que foi para ela... isso se ela ler... Outro dia me perguntaram se eu estava apaixonada... em um dos poucos momentos na vida eu disse não, não estou. Eu tento buscar nas pequenas coisas, nas pequenas decepções, de amigos, homens, mulheres, pais... Coisas que talvez nem tenha acontecido comigo...Ou que não tenha tido a importancia que deveria ou aparenta ter tido... E concluem logo: Lá vai a coitada apaixonada... ai ai ai.
Well.. one more time talking about me... pois é isso Julio, ridículos somos todos!

Bem, adoro o que você escreve e acho que por onde vc se aventurar deve sair coisa boa... Tu és sensível meu caro...

Um beijo.

Carambolices disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carambolices disse...

presente para vc no carambolices... Talvez não seja a carta que vc esperava... mas ( parafraseando Márcio Libar), fica com essa para aprender que a vida não é fácil... ehhehehehe

Anônimo disse...

''Amor é prosa, sexo é poesia ''.


Então que se dane o medo de se expôr... E viva a poesia!

Ah sim, dois anos é muito tempo...

PS: Você é louco e por isso escreve muito bem.

Beijos e Queijos*


Boneca Falante *

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