quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Com conhecimento de causa




Desde que entrei na faculdade de Jornalismo, sempre ouvi dos professores e de eventuais palestrantes que esta era uma profissão na qual trabalhava-se muito e ganhava-se pouco. Eu, movido por um certo desejo adolescente de transformar o mundo e também pelo fato de o Jornalismo trabalhar com a verdade e a Publicidade com a mentira (este era o meu discurso aos meus colegas de classe), nunca dei muita bola. Mas agora que a realidade bate à porta, eu vejo que não é todo mundo que vai ser um William Bonner. E acho que estamos, nós, jornalistas, numa fase especialmente complicada.
Pensava-se que a internet traria um certo boom para o Jornalismo. Na publicação gratuita online, os anúncios dariam o retorno esperado. Já deu para notar que não é bem assim. Agora são os jornais impressos que também estão seguindo esta tendência. No metrô, por exemplo, quase ninguém mais lê os ''jornalões''. Todo mundo só lê os gratuitos: Destak e Metro. Além de serem jornais extremamente superficiais, eles estão fazendo com que os outros percam muito de seus leitores. Já não bastassem os virtuais.
O fenômeno da crise no Jornalismo não é só tupiniquim. Nos Estados Unidos, vários jornais pediram concordata e muitos outros ajuda ao Governo para não quebrarem. Tudo bem, é a crise. Mas isto já era anterior a ela. Outro receio dos americanos é a popularização do tal do Kindle, uma espécie de Ipod de livros e jornais, no qual você baixa qualquer produto literário. A pergunta que eles se fazem lá é a seguinte: para mandar mensagens de texto gasta-se US$ 0,20, mas comprar uma notícia ninguém quer? O mais curioso é que, segundo uma pesquisa, o número de leitores não para de crescer. O mesmo provavelmente acontece aqui no Brasil.
A decadência do Jornalismo é uma ameaça à democracia. No Rio, por exemplo, excetuando-se as organizações Globo nenhum outro veículo dá condições boas de trabalho a seus jornalistas. O que em si já é temeroso pelo fato de um veículo de comunicação ter o monopólio da informação (se não por direito, por estrutura). O JB, por exemplo, tido como o segundo maior jornal do estado, manda estagiário cobrir o Lula quando vem ao Rio. É difícil imaginar uma pergunta ''melindrosa'' vinda de um estagiário. Não por falta de competência, mas de experiência mesmo.
O Jornalismo tem que se reinventar, ou melhor, inventar uma maneira de ganhar dinheiro. Os artistas não reclamam que suas obras são baixadas de graça e eles não ganham com isso? E os jornalistas, por que temos que dar nossos produtos?

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