domingo, 30 de agosto de 2009

Se nada mais der certo

Esse é o nome de um filme brasileiro a que assisti há algumas semanas. O filme é um saco (embora o Rodrigo Fonseca ache o contrário), mas tem duas coisas legais. O nome e um diálogo que motiva o texto que segue. Nele, uma das personagens, uma ex-viciada que tem um filho e para quem nada dá certo, arruma um emprego em uma loja. Um dia ela está conversando com uma amiga sobre o dia de trabalho. Ela conta que uma mulher entrou na loja e comprou uma blusa (ou vestido, sei lá) horrível por três mil reais. "Cara, eu prefiro sofrer e passar por momentos difíceis do que desejar pouco". Não sei se a história foi compreensível a vocês, mas eu gostei muito dessa frase. Outro dia estava conversando sobre isso com um amigo. Às vezes me parece que tem gente que faz a opção por levar a vida numa linha reta. Fica num relacionamento ramerrame ou num trabalho burocrático, achando que a vida é assim mesmo, medíocre, na acepção da palavra. Sempre acomodado. Não sofre muito, mas também não sente aquele friozinho na barriga do novo, do excitante. A vida é feita de altos e baixos. O Schopenhauer diz que para saber realmente o que é felicidade, você tem que passar pelo âmago do sofrimento antes. Não sei é preciso ser tão radical ou pessimista, como ele é taxado, mas assim quando você só dá valor à saúde quando está doente, eu concordo em parte. Qualquer ruptura traz dor, traz sofrimento. Mas isso faz parte da vida. Não se preocupe em ser exigente, em querer mais, em ser sonhador. O sonho é o que move a vida. Ruim é desejar pouco.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Papo "careta"

Para quem não estudou Comunicação, deixe-me contar uma história de bastidores: há entre Publicitários e Jornalistas uma certa rixa. Pelo menos, entre os mais “ativistas”. Os primeiros são os “vendidos”, os que estão aí só para manter o sistema (pois é, ainda tem gente que fala em “sistema”). Os segundos são os sonhadores, os que lutam por um mundo melhor, que vão transformar alguma coisa. A arma destes (ou devo confessar, nossa) contra eles, os vendidos, é o livro “A Publicidade é um cadáver que nos sorri”, do Toscani, ex-publicitário da Benneton. Há também os que fazem Cinema. Estes, em sua maioria, olham pretensiosamente todo mundo de cima porque fazem arte. Isso tudo, claro, na faculdade, quando se tem 20 anos, depois você se forma e vê que o sonho é outro. Que ganhar dinheiro é legal e que nem tudo é tão maniqueísta assim. Principalmente tratando-se de Comunicação. Destas três profissões, definitivamente, a Publicidade é a mais bem sucedida, pelo menos de uns tempos pra cá. A Publicidade é a vertente mais exposta do Capitalismo. Ela alimenta-se da concorrência. Agora a pergunta que eu faço é a seguinte: Em pleno séc. XXI, o que não se alimenta do capitalismo? Aí que está o meu ponto: os jornalistas e cineastas têm culpa, sim, na decadência de suas respectivas profissões. Geralmente, são mais cultos que os publicitários e talvez por isso, são à mesma proporção mais céticos e preconceituosos. São os donos da verdade. Têm uma certa aversão à tecnologia, por exemplo. Blackberry é coisa de burguês, Twitter é coisa de nerd, Marketing é coisa do diabo e por aí vai. Outra palavra que não combina com jornalistas e cineastas é gestão. Não à toa, quase não tem MBA para Jornalismo e Cinema. Não estou querendo burocratizar nem padronizar as atividades humanas. Mas organização, gestão, mercado e tecnologia são palavrinhas básicas do nosso tempo, para qualquer ramo. Até para mudar o mundo. Se não adequarem-se a isso o Cinema no Brasil vai sugar eternamente o nosso dinheiro, através da Lei Rouanet, e os jornalistas vão estar sempre se lamuriando pelos cantos que trabalham muito e ganham pouco.

PS - Aos amigos jornalistas e cineastas, eu pago o chopp para a gente fazer as pazes. Mas, falando sério, claro que isso é uma generalização preconceituosa. À esquerda, minha formação para justificar.

domingo, 16 de agosto de 2009

Do geral para o particular

Amor platônico é o pior tipo de amor. Porque você não ama uma pessoa, você ama a ideia dessa pessoa. E, como eu escrevi outra vez, as ideias são, na maioria das vezes, melhores do que o real. Você não está junto para que a idealização torne-se real. Quando você está longe, você só lembra das qualidades, das coisas boas. Acho que é por isso que as pessoas depois de mortas são tão cultuadas. Elas viraram uma ideia.
Dizem que os poetas amam o amor. E não a pessoa. Têm esse glamour do amor idealizado, sublime. Ou seja, eles amam o sentimento. E o sentimento é uma abstração. E eu acho que é mais fácil amar uma abstração do que uma pessoa. A pessoa pode ter chulé, roncar, ser infantil, ser rude. O sentimento não. O sentimento é estável, é lindo, é puro.
Por isso que o amor platônico é uma merda, porque a pessoa vai desperta em você este sentimento e depois não fica pra mostrar que ela não é isso. Aí, o que sobra pra mim é a ideia de você. Não você. E eu tenho certeza de que a minha ideia de você é mais legal do que você.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Time is Money

O texto abaixo foi um dos poucos que eu escrevi nos oito meses que fiquei nos EUA ano passado. Muito bons tempos. Hoje, 5 de agosto, completa um ano que eu voltei. Escrevi à época no http://www.sobrecasaca.com.br/, blog que mantive com meus amigos antes de desertar para este. O blog ainda existe, muito bem escrito pelos marujos João Vicente e Daniel.

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A frase que a gente costuma usar para provocar alguem quando esta pessoa esta atrasada ou para agiliza-la tem um significado diferente aqui nos EUA. Ou melhor, tem o significado absolutamente literal. Aqui, como em nenhum outro lugar do mundo, tempo eh dinheiro. 8, 10, 20, 30 dolares dependendo do lugar. Eles pagam por hora, ao que chamam de wage. Salary, seria o mensal, mas quase ninguem recebe dessa forma. Por exemplo, no restaurante em que trabalho eles me pagam 8h por hora, que eh o minimo wage na California. Cada estado tem o seu minimo. E por essa razao, a de o seu boss estar te pagando por hora, voce tem que recompensa-lo de alguma forma. Mesmo que nao tenha cliente nenhum nessa uma hora, por exemplo, voce tem que se virar para arrumar algo para fazer. Botar os molhos na garrafa, arrumar os guardanapos, ou qualquer outra tarefa menor. Porque nao faz sentido voce estar recebendo 8 dolares para nao fazer nada. Esse eh um exemplo menor, mas que no geral pode ser uma das razoes de eles serem tao desenvolvidos. Nessa mesma uma hora em que estou fazendo tais coisas no restaurante, todos os trabalhadores americanos, cada qual em sua area, tambem estao. Pode ter certeza. Aqui conversa fiada e braco cruzado nao existem. Porque custa dinheiro para alguem. A relacao eh direta e explicita. Time - Money. O que eh bom também para o empregado. Ao contrario do Brasil, trabalhando num jornal, por exemplo, como ja foi meu caso em algumas vezes. Voce teria, supostamente, que trabalhar oito horas por dia, o que nunca ocorre, voce trabalha 10, 12 e nao recebe nada mais por isso. Aqui, nao. Se te pedem para ficar alem do seu horario, voce pode ter certeza de que vai receber por aquelas horas a mais. Voce nao se sente explorado. Se voce trabalha 15 minutos a mais do seu tempo, voce recebe por esses minutos, nem que seja dois dolares. Bem, eu adoraria continuar essa conversa, mas tenho que ir para o trampo, porque voce sabe, time is money. Aqui, pelo menos.

Sem acentos e cedilhas,
Julio,
San Diego, Ca

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