domingo, 5 de abril de 2009

Sugestão de monografia a um amigo sociólogo

O porteiro é, entre todas as atividades profissionais, o trabalhador que mais pensa. Não em termos intelectuais, mas estatísticos. Você já deve ter tido a experiência de trabalhar em lugares onde você fica tão ocupado durante o expediente, que quando vê, já está na hora de arrumar suas coisas e ir embora. Por outro lado, há certos trabalhos no quais você não faz lá muita coisa, enrola mais do que trabalha. Quem já trabalhou ou trabalha no serviço público sabe bem do que estou falando. Nestas, desculpem o chavão, o tempo não passa. A cabeça, em compensação, está longe do escritório e dos papos irrelevantes do chefe. A profissão de porteiro enquadra-se nesta segunda definição. Num turno de oito horas, somando-se o aperto de botões para abrir e fechar o portão e eventuais ''interfonemas'', o total de trabalho efetivo deve dar uns 20 minutos. Ou seja, nas outras 7 horas e quarenta minutos, ele pensa. Sortudos aqueles que não são proibidos pelos síndicos de ouvir o tradicional radinho de pilha, com as notícias diárias do futebol. Ah, o porteiro também tem essa atributo voluntário, de informar o resultado dos jogos quando você está na rua. Bem, o porteiro é definitivamente uma profissão que me intriga. Talvez motivado pelo fato de eu morar em Copacabana, princesinha do mar. Mar de prédios. Já escrevi certa vez sobre minha curiosidade pelo fato de não existirem porteiros mulheres. Em oito meses nos EUA, não vi um sequer, e olha que eu visitei diversas cidades. Por sinal, não sei nem como se fala porteiro em inglês (suspeito que seja doorman). À Europa eu nunca fui, mas a reação irônica de um colega de classe francês quando eu descrevi a função, já que não sabia a palavra, me indica que eles também não têm. Parece que na África, por outro lado, eles, os porteiros, estão lá. Definitivamente, existe uma relação econômica nisso. Assim como o caso das empregadas domésticas, que são privilégios de países subdesenvolvidos. Além, penso eu, de o porteiro ter uma certa função de vigia nestes países que convivem diariamente com a violência. O porteiro é, a meu ver, uma profissão menosprezada pelos antropólogos e sociólogos brasileiros para um melhor entendimento da cultura tupiniquim. Pode-se através deles, por exemplo, analisar o ciclo migratório nordeste-sudeste; um certo machismo enrustido do brasileiro, já que não existem mulheres nesta atividade; o futebol como integração entre as classes sociais. Enfim, vários aspectos. Portanto, Daniel, caro amigo, fica aqui minha sugestão de monografia. Sem royalties.

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