
Puxo conversa com o vizinho só para quebrar aquele constrangedor silêncio de elevador. As únicas coisas que eu sei sobre o meu xará de endereço é que ele luta jiu-jitsu e estuda Direito. Como a primeira atividade não me interessa muito, pergunto:
- E aí, cara, e a faculdade como tá?
- Tô gostando. Vou prestar concurso público.
- Ah, maneiro.
(Chegamos ao térreo)
- Valeu.
- Falou.
Fico eu cá com meus botões: existe alguém que estuda Direito que não queira fazer concurso público? Você já conversou com alguém que fale do Direito de maneira apaixonada? Acho que todo mundo já pensou quando criança em ser advogado. Mais por causa do dinheiro (até no Banco Imobiliário era a profissão que ganhava mais) e em menor escala pelos filmes hollywoodianos. Num país onde a Justiça praticamente não funciona, em todas as esferas, o que leva alguém a estudar Direto sem pensar no lado econômico? Não que isto seja pecado, mas com certeza, é o fator preponderante, para não dizer exclusivo. Acho isso um pouco frustrante, ao menos quando você tem 17, 18 anos. Juro que gostaria de ouvir de algum estudante de Direito (conheço poucos, confesso) falando que quer estudá-lo para mudar, ou pelo menos, tentar melhorar o sistema jurídico brasileiro. Mas não. O objetivo é sempre o tal do concurso público. O famoso ''mamar nas tetas do governo''. Daniel Dantas, Pimenta Neves, Renan Calheiros, Collor, entre muitos outros, são provas de que a Justiça neste país é praticamente nula, bem como o sistema político. Fico imaginando o quão frustrante deve ser para a Polícia Federal e, em seguida, para os promotores dos casos em conseguir condenar estas pessoas e vê-los por aí, impunes, em suas festas nababescas, e pior ainda, de volta à vida política. E não me venha com essa história de que a Justiça fez a parte dela, porque cabe à Justiça além de julgar, condenar os réus. Não é só com os ''peixes grandes'', no entanto, que a Justiça tarda (para sermos generosos). Tenho um caso na minha família, que talvez seja um dos motivos para minha ojeriza à Justiça. Minha avó, quando era viva, quebrou o fêmur ao tropeçar num degrau dentro da Caixa Econômica Federal. Ficou constatado por peritos que o tal degrau não deveria estar ali. Ganhamos a causa no mesmo ano. Após inúmeros recursos da Caixa, nove anos depois (!), recebemos a indenização, quando ela já havia falecido há tempos. Nove anos para resolver um caso desses? Imagina por quantas pessoas diferentes este processo passou. Não estou fazendo um protesto contra a profissão de advogado, que é uma das mais antigas e importantes para a soberania de um país. Mas, acho sim, que eles (advogados) também têm parcela de culpa no fato de a Justiça neste país ser tão incompetente. Pois, ao invés, de tentar melhorá-la, ao passar no tão sonhado concurso público, se adaptam e se acomodam a ela, como é característico de todo cargo público. Tudo bem que o Direito, por preceitos, não deva ser uma profissão em que a emoção e paixão preponderem. Mas a frieza e a rigidez, como disse o Bial, são características da morte. Espero que a Justiça não chegue a tanto.
- E aí, cara, e a faculdade como tá?
- Tô gostando. Vou prestar concurso público.
- Ah, maneiro.
(Chegamos ao térreo)
- Valeu.
- Falou.
Fico eu cá com meus botões: existe alguém que estuda Direito que não queira fazer concurso público? Você já conversou com alguém que fale do Direito de maneira apaixonada? Acho que todo mundo já pensou quando criança em ser advogado. Mais por causa do dinheiro (até no Banco Imobiliário era a profissão que ganhava mais) e em menor escala pelos filmes hollywoodianos. Num país onde a Justiça praticamente não funciona, em todas as esferas, o que leva alguém a estudar Direto sem pensar no lado econômico? Não que isto seja pecado, mas com certeza, é o fator preponderante, para não dizer exclusivo. Acho isso um pouco frustrante, ao menos quando você tem 17, 18 anos. Juro que gostaria de ouvir de algum estudante de Direito (conheço poucos, confesso) falando que quer estudá-lo para mudar, ou pelo menos, tentar melhorar o sistema jurídico brasileiro. Mas não. O objetivo é sempre o tal do concurso público. O famoso ''mamar nas tetas do governo''. Daniel Dantas, Pimenta Neves, Renan Calheiros, Collor, entre muitos outros, são provas de que a Justiça neste país é praticamente nula, bem como o sistema político. Fico imaginando o quão frustrante deve ser para a Polícia Federal e, em seguida, para os promotores dos casos em conseguir condenar estas pessoas e vê-los por aí, impunes, em suas festas nababescas, e pior ainda, de volta à vida política. E não me venha com essa história de que a Justiça fez a parte dela, porque cabe à Justiça além de julgar, condenar os réus. Não é só com os ''peixes grandes'', no entanto, que a Justiça tarda (para sermos generosos). Tenho um caso na minha família, que talvez seja um dos motivos para minha ojeriza à Justiça. Minha avó, quando era viva, quebrou o fêmur ao tropeçar num degrau dentro da Caixa Econômica Federal. Ficou constatado por peritos que o tal degrau não deveria estar ali. Ganhamos a causa no mesmo ano. Após inúmeros recursos da Caixa, nove anos depois (!), recebemos a indenização, quando ela já havia falecido há tempos. Nove anos para resolver um caso desses? Imagina por quantas pessoas diferentes este processo passou. Não estou fazendo um protesto contra a profissão de advogado, que é uma das mais antigas e importantes para a soberania de um país. Mas, acho sim, que eles (advogados) também têm parcela de culpa no fato de a Justiça neste país ser tão incompetente. Pois, ao invés, de tentar melhorá-la, ao passar no tão sonhado concurso público, se adaptam e se acomodam a ela, como é característico de todo cargo público. Tudo bem que o Direito, por preceitos, não deva ser uma profissão em que a emoção e paixão preponderem. Mas a frieza e a rigidez, como disse o Bial, são características da morte. Espero que a Justiça não chegue a tanto.