quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O elevador e a ascensorista




Enquanto não encontro tempo para textos novos, continuo repaginando alguns antigos (este com um retoque aqui, outro acolá), escritos no http://www.sobrecasaca.blogspot.com/ , blog que mantenho com amigos. Vale a visita.


Ela é ascensorista do prédio em que ele trabalha. Ele chega sempre às 8h57m para esperar o elevador, que o leva até o 22º andar. Às 18h ele sai. Ela admira sua pontualidade, que começa o serviço às 9h. Por sinal, ela admira tudo nele, principalmente a elegância com a qual o terno preto lhe cai sobre os ombros. Ele não sabe da paquera, entretanto, porque ela é tímida, muito tímida. Dessas que não consegue encarar os olhos das pessoas por mais de dois segundos sem desviar o olhar. O que dizer então de um possível flerte. Tudo o que ela gostaria era chegar para ele e dizer da sua admiração, que, com o tempo, acabou se tornando atração (desejo). O elevador nunca está vazio, é a “hora do rush” no edifício comercial no Centro da cidade. Há sempre, no mínimo, umas oito pessoas. No máximo, o que quase sempre acontece, 14. Dentre estas, uma pensa noutra que está naquele mesmo espaço retangular. Enquanto as outras pessoas pensam, possivelmente, no trabalho que está prestes a se iniciar, na conta que têm de pagar no banco ou o que vão comer no almoço, ela pensa nele. Só nele. Naquele dia, porém, iria ser diferente. Ela revelaria tudo: sua admiração, desejo, paixão. Já havia tentado flertar com ele, é verdade, mas sua vergonha ao quadrado impedia o êxito das tentativas. Vestiu naquela manhã de sexta-feira, dia menos movimentado no prédio público, seu uniforme mais novo, apertadinho, e um batom mais provocante. Ela, que não era feia, ficou até interessante. Super segura de si, decidiu contar a ele o que vinha pensando nos últimos meses. (Nele). Dá certo. Ele topa e revela ainda que já tinha notado uns certos olhares. Eles começam a sair. Direto. Ele pede, no entanto, para não trocarem telefones porque queria manter a discrição no ambiente de trabalho. Os encontros eram feitos da seguinte forma: ele chegava ao trabalho e a entregava um bilhete com um horário para se encontrarem mais tarde. Sempre em lugares diferentes, muitas vezes em motéis. Também diferentes.
Numa outra manhã de sexta-feira, algum tempo depois, 8h57m ele não chegou ainda. "Estranho. Ele nunca se atrasa''. 9h, 9h30m, nada. “Não deve vir mais hoje, está doente”. Não vai, bem como no dia seguinte. E na semana seguinte. Nunca mais.
Moral da história: O elevador não transporta só de um andar para o outro. Principalmente para um(a) ascensorista.

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