quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Barbudo, fumante, recém-separado


Hoje, ao ir para o trabalho, vi um senhor de barba, entre 44 e 50 anos, fumando. O texto a seguir, no entanto, não é sobre ele especialmente. Muito menos sobre o tabagismo. Este senhor me fez pensar no fato de que a chance de eu vê-lo novamente é de 1%. A chance de eu vê-lo novamente e ainda por cima lembrar dele é de 0,3%*. Todos estes dados servem para ilustrar o fato de que a imensa maioria das pessoas que vemos nas ruas diariamente não veremos em outra oportunidade. Principalmente nas grandes metrópoles. E a recíproca é verdadeira. Então, não sei porquê, mas neste dia eu queria que as pessoas me olhassem. Deu vontade de falar: “ei, você nunca mais vai me ver, então como pode você passar por mim, conversando com alguém? Olhando para baixo e cantando? Me dê os únicos cinco segundos de atenção que você vai precisar me dar na vida.” Prezando a minha (até agora) comprovada sanidade mental, não o fiz.
As pessoas que vemos nas ruas tornam-se tão vagas e passageiras quanto o seu próprio andar. São transeuntes; números. Mas não. Aquele senhor que sentou ao seu lado no ônibus tem uma filha que mora em Manaus, da qual morre de saudade. A tiazinha que passou quase trombando em você na Av. Nossa Senhora e te deixou puto, vai à missa aos domingos e não come carne vermelha. Aquele senhor de barba lá da primeira linha do texto se separou da mulher com quem era casado há 22 anos anteontem. Claro que estas todas são suposições, mas é legal fazê-las às vezes. Ao menos assim, as pessoas voltam a ser, ainda que num exercício de imaginação, pessoas.

* Dados do Inverno de Julho

6 comentários:

Unknown disse...

Fala Júlio, beleza?

Aqui é o Vinicius, que fez uma matéria contigo na PUC... (Comunicação Comuitária???)

Outro dia a gente trocou uma idéia rápida lá no Baixo Gávea, te falei que to trabalhando lá no Vasco... lembrou? rs...

Então cara, só pra deixar registrado que caí aqui no seu blog por um desses acasos milagrosos da blogosfera... e fiquei amarradão!!!

Os textos tão muito maneiros cara... parabéns and Keep up the good work!!! :)

Qualquer dia te chamo lá no msn (eu tô sempre no "aparecer offline", porém online... só chamar... rs) pra gente trocar uma idéia, de preferência sobre blogs, ou sobre o teu Botafogo... porque sobre o meu Vasco... TÁ FODA!!!

Abraço!

Unknown disse...

Te adicionei lá no orkut!

Abs!

Adrianna Coelho disse...


caramba!
pra começar, adorei o que vc escreveu...
quando ando pela rua, sempre faço uma coisa (há anos): imagino que as pessoas que passam por mim estão felizes, bonitas (nada a ver com roupas e essas cositas) e coisas boas, sempre boas, ainda que saiba que tudo está dentro da minha própria perspectiva...
acredito que isso faça alguma diferença - bem, faz pra mim...

legal ler isso!

jh.sil disse...

Eu gostei deste texto. Talvez porque eu tenha me identificado com ele. Não sei se é o seu caso, mas a vida "nas rodoviárias" é curiosa. Acaba se tornando um eterno contemplar de gente que nunca mais veremos. Embora eu more no interior, e a minha cidade tenha apenas 45 mil habitantes, minha vida, por um longo tempo, foi dentro de um ônibus de manhã e de tarde, de manhã e de tarde... eu sempre tenho alguns livros pra esses momentos, mas quando se faz todos os dias as mesmas coisas, deixar de ler alguns deles foi um modo de mudar aquele momento tão repetido. E então nesse momento eu comecei a prestar atenção nas pessoas que estavam ao meu redor em demasia. E também naqueles que passavam, feito loucos, puxando malas. Eu criava várias possibilidades pra toda aquela gente. E, inclusive, pensava se alguma delas estava fazendo o mesmo que eu. Ou se alguma delas tentava, entre sacolas e horas, mascarar os pensamentos que nos são inevitáveis.

Nossa, nem sei porque eu disse tudo isso. Parece que o seu texto desagüou em mim uma sensação visivelmente nostálgica. Despertou algo que estava aqui, adormecido nesse baú amontoado que é a nossa memória.

Belo texto. Gosto da sua simplicidade.

Beijos.

Anônimo disse...

adoro a simplicidade dos seus textos, consigo imaginar você falando pra mim essa história!
"Prezando a minha (até agora) comprovada sanidade mental, não o fiz." Muito bom! bj

Lucas Vettorazzo disse...

Muito interessante, Júlio. Engraçado como o ser humano é curioso com relação ao outro. Às vezes me flagro imaginando como as pessoas são na intimidade, ou como elas realmente são, sem máscaras. Penso se aquele casal que transborda felicidade é realmente feliz ou esconde terríveis segredos. Ou então se aquele chefe linha dura só é durão porque em casa quem assume esse posto é sua esposa. Ou até se aquele politico chinfrim que entrevistei semana passada ambiciona ser presidente do Brasil e privatizar a petrobras. Essas coisas doidas que a menos que sejamos paranormais ou uma mosquinha nunca saberemos.

Muito bom o texto.

Dá um pulo no http://pastamarela.blogspot.com/

está sem texto novo, mas tem novidades.

Conclamo seus leitores assíduos a visitarem meu blog!!! Haaa, essa técnica é velha!!!

Abração

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