quarta-feira, 28 de julho de 2010

Edward and Monique

Ela tem um Blackberry, ele, um Iphone. Mesmo assim tentaram ver se dava certo. Ela é bem prática e metódica, gosta de tudo preto no branco. Ele prefere a multiplicidade de opções. Ela se dá bem com as teclas do Blackberry e despreza o teclado escorregadio do Iphone. Ela não gosta de nada escorregadio. Ou é ou não é. Já ele não quer saber se no celular pode ter duas ou três caixas de correio.
Ela odeia quando manda um e-mail e ele não responde: “A utilidade de um celular com internet é você poder responder os e-mails na hora”, diz. Ele responde que estava distraído vendo os clipes de música no Youtube, principal uso de sua internet móvel.
Quando classificaram o Blackberry como o celular do “mundo corporativo”, ela não teve dúvidas. Este é o mundo dela. Diga-se de passagem, onde tem tido bastante sucesso so far.
Mas de repente, conhece um cara que abala suas convicções. É meio descompromissado com qualquer “amarra social”, como alertam suas amigas, e não sabe nem bem do que se trata o tal “mundo corporativo”. Ela ficou na dúvida se o mundo paralelo agora era o dele ou o dela.
Várias vezes, quando saíam, ela, enquanto ele contava histórias como a do “Adeus, Lênin”, dava uma olhada para baixo para ler o e-mail que tinha acabado de chegar no mobile. Ele nunca se, nem a interrompeu por causa disso. Continuava divertindo-se contando a cena em que o filho corre atrás dos pepinos em conserva para poupar a mãe do baque do Capitalismo cruel.
Parou de dar certo quando ela quis para aquele relacionamento o escopo do projeto. Com data de início e previsão de retorno. Atenciosamente.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Dia 1º de julho lanço pela Editora Multifoco meu primeiro livro, Inverno de Julho. É uma coletânea dos textos que escrevi no Sobrecasa e neste presente blog. Todos estão convidados. E não tem jogo da Copa nesta data, ou seja, não tem desculpa. Vejo vocês lá.


sexta-feira, 28 de maio de 2010

Getting older

Há pouco tempo recebi um e-mail cujo título era “A síndrome dos vinte e tantos anos”, falando da angústia que as pessoas atravessam nessa fase da vida. Logo identifiquei alguns, talvez a maioria dos meus amigos atualmente, que andam se lamuriando (não me excluo) pelas mesas de bares, e como permite a Modernidade, no Facebook e no Twitter.
O e-mail abordava questões como inserção no mercado de trabalho, a dificuldade de encontrar horários para ver os amigos, e claro, relacionamento.
Eu tenho minha tese sobre este momento da vida. Acho que a transição da fase da faculdade, quando, por mais que reclamássemos, tinha uma rotina prazerosa, um pouco descompromissada, para o dia-a-dia somente de trabalho, em que faltar não é uma possibilidade tão comum, é uma mudança significativa, nem sempre agradável.
Outro aspecto importante deste momento da vida é a exigência cada vez mais latente. Tanto para lugares, quanto para pessoas. A fase “eclética” do “gosto de tudo” diminui gradativamente. Você gosta de determinados (e poucos) lugares, fazer novas amizades fica cada vez mais complicado. E para encontrar alguém com quem se identifique torna-se mais difícil. A beleza só não basta. Você analisa as roupas, o jeito de falar, os lugares que a pessoa freqüenta, a música que ouve e até o que ela escreve no Twitter.
Isso para os solteiros. Os namorados se angustiam e ficam se perguntando se aquela pessoa é de fato com quem vão querer dividir a cama para o resto da vida.
Mas chega uma hora em que o tempo, senhor da razão, acerta seus ponteiros.
Você se acostuma com a rotina de trabalho, a exigência torna-se sinal de autoconhecimento, afinal, você quer encontrar no outro gostos e características que na verdade são seus.
Acho que cada vez mais entendo o que Nelson Rodrigues queria dizer com: “Jovens, envelheçam”.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Por que eu voto Serra

Há quatro anos minha foto no perfil do Orkut tinha um avatar do Lula, e eu era voz uníssona nas dicussões com meus amigos nos bares de Copacabana, defendendo "o cara" (como botafoguense, eu já ganhei expertise em ser voz uníssona nas discussões de bar). Não me arrependo. Pelo contrário. Apesar de algumas lacunas que os oito anos de Governo de Lula deixaram, como na Educação, por exemplo, acho que o saldo deste período é extremamente positivo. Isso é reconhecido não só por mim, mas pela Imprensa internacional e por 80% da população brasileira.
Mas não consigo desassociar o que foi feito nestes últimos oito anos em relação à base que foi construída nos oito anos anteriores. Por isso, acho que apesar de diversas queixas, os últimos 16 anos foram extremamente produtivos para o país e FHC tem, sim, muitos méritos neste processo.
Mas dos quatro anos da minha campanha para o Lula no decadente site de relacionamento para hoje, eu revi meus conceitos, como prega a propaganda. Até por experiências próprias. Uma delas foi trabalhar num órgão público. E ver com meus próprios olhos como (não) funciona o Estado como administrador. Independente de teorias ou ideologias uma empresa que não tem a prerrogativa de demitir um funcionário não pode ser bem gerida. O Jabor tem um texto interessante que diz que uma empresa tem de ser administrada como o Seu Manoel administra a padaria dele. Se ele não tem demanda pra três padeiros, por que manter os três?
Portanto, eu não consigo mais engolir esse discurso do "Estado indutor da Economia". Tudo o que você precisa do Estado não funciona. As pessoas são acomodadas, porque o próprio sistema as propicia isso. Basta ir ao Detran ou ao cartório, ou conversar com alguém que tenha a União como chefe.
Não que eu seja contra a presença do Estado como distribuidor de renda, por exemplo. Eu acho o Bolsa-Família um excelente programa. Para isso, eu até trabalho quatro meses de graça. Mas daí a trabalhar para bancar os filmes panfletários do Sílvio Tendler?
Também sei que o Serra não é o liberal que se propala. Mas pelo menos não carrega a bandeira do "Estado mãe" como a Dilma.
Quatro anos depois, eu não vou pôr um avatar do Serra no meu Facebook, mas agora terei companhia nas minhas discussões de bar em Copacabana.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A crônica em preto e branco


Clube de cronistas e escritores, como Vinícius de Moraes, Clarice Lispector, João Saldanha, José Lins do Rego, o título do Botafogo não poderia deixar de remeter ao gênero que fica no meio-de-campo entre a Literatura e o Jornalismo. Desacreditado desde o início do campeonato, arrasado depois de uma goleada de seis a zero em seu campo, sofrendo três gols de seu último grande ídolo, a conquista do Botafogo mereceria as palavras e a narrativa de Armando Nogueira, morto um mês antes. Eles nos brindara com frases como: "Feliz do clube que tem como símbolo um objeto de Deus" e "O Botafogo é bem mais do que um clube - é uma predestinação celestial".

Depois de uma vitória na semifinal do primeiro turno contra o Flamengo, que admita-se, mais por sorte do que por qualquer outro fator, e em seguida, com autoridade, uma vitória sobre o mesmo Vasco dos 6 a 0 menos de um mês antes, o Botafogo garantia seu lugar na final, como nos três últimos anos, mas ainda permanecia para sua própria torcida desacreditado.

Depois de um segundo turno claudicante, com derrota no clássico para o Fluminense, o Botafogo enfrenta o mesmo adversário na semifinal, com Fred, seu goleador inspirado, e vence, de virada.

O time contra quem jogaríamos a final sairia de Vasco x Flamengo. E tirando nós, nenhum outro time do Rio tem feito frente a eles. Não deu outra.

A vitória alvinegra na decisão contra o Flamengo começou a se desenhar antes do jogo, quando nossa torcida parecia que estaria maior do que o outro lado. Antes do apito inicial, eles chegaram, mas o sentimento de opressão não era o mesmo de anos anteriores. O êxtase quase virou água fria aos 33m do segundo tempo com o já conhecido penaltizinho pra eles, como nos anos anteriores. Mas esse ano, também diferente das três últimas edições, nós tínhamos goleiro. Um personagem frio, que quase não aparece, ao contrário do badalado ataque rubro-negro. Melhor assim. Aquela defesa foi a resposta à soberba, à arrogância, ao “Flamengo é Flamengo”.

Já que Armando não poderá nos contemplar com sua crônica sobre essa conquista, as palavras entoadas pela torcida, de autoria desconhecida, servem para registrar a epoéia alvinegra: "Momentos ruins eu já vivi, mas nunca parei de cantar (...)". Um dia, a recompensa por esse amor que ninguém cala, chega.

domingo, 11 de abril de 2010

Impresión de viaje


Quatro brasileiros chegam a um restaurante no Centro de Buenos Aires. Monoglotas, pedem à garçonete, em Português, seus pratos e garrafas de vinho. A garçonete argentina, que possivelmente também fala Inglês, responde na língua dos visitantes. Esta cena ilustra a relação Brasil e Argentina atualmente. Os brasileiros, impulsionados pela emergência econômica recente, mas que não vem acompanhada de Educação, fazem uso de sua vantagem monetária e são poucos os que demonstram algum dote intelectual. A Argentina e a argentina (a garçonete) em decadência econômica, ainda mantêm o seu alto grau de instrução, do qual nunca se desfizeram. Outra comparação dessa relação pode ser vista através das roupas. A classe média brasileira deslumbrada, com suas camisas em letras garrafais da Abercrombie, enquanto os argentinos usam roupas discretas sem marca, porém elegantes. Não quero ser acusado de antipatriota. Mas acho que temos que tirar muitos exemplos de nossos hermanos. Embora a decadência seja visível na má conservação, por exemplo, dos prédios públicos, Buenos Aires ainda está anos à nossa frente. Por isso, continuo batendo na tecla de que este é o momento de aproveitar o bom momento da economia brasileira, em função principalmente de nossas vendas de matérias-primas à China, para investirmos em Educação. Só isso será sustentável a longo prazo. Puerto Madero, a área comercial recente da Argentina, serve de exemplo para o que queremos fazer aqui no Rio, que já começou mal com o cafona nome de “Porto Maravilha”. Além de ser de uma elegânia ímpar, construíram uma faculdade na área – a PUC. Outro exemplo bacana é a Libraría Ateneo (foto). Antes, um cinema e teatro luxuosíssimo, virou uma livraria, e não tem muito tempo: dez anos. No Brasil, possivelmente teria virado uma Igreja Universal. Por sinal, há livrarias – quase sempre cheias, diga-se de passagem - em Buenos Aires como há farmácias no Brasil. E eles veneram seus escritores como gostamos de nossos jogadores. No city tour, tem passeio à casa do Borges, seu mais famoso escritor, e diversas esculturas em sua homenagem. Portanto, em vez dessa rivalidade que não leva a nada, podemos olhar pra eles e ver o porquê de terem cinco Prêmios Nobel, o último Oscar de melhor filme estrangeiro...

terça-feira, 30 de março de 2010

Cartão ou dinheiro?

Casa da Matriz, sexta-feira, 4h45.

Oito cervejas - R$ 65,00. Duas caipirinhas e uma Smirnoff - R$ 37,00. Tiago, 31 anos e Ana, 27. Conheceram-se naquela noite. Tiago vai pagar a conta de Ana. Está querendo levá-la para casa. Ana, ainda amargurada com um pé na bunda recente e pouco bêbada, está pensando se vai dar ou não naquela noite. É mais provável que não.

Três Red Bull com vodka e duas Boemias – R$ 73,00. – Henrique, 26, anos. Nunca namorou. Aquela era mais uma noite em que tinha a esperança de conhecer alguém legal. Fica pra próxima.

Duas caipivodkas e uma água – R$ 49,00. Bruna, 30 anos. Seu namorado, Pedro, está viajando. Nessa festa quase ficou com Augusto, um cara interessante, papo bacana. Bruna já está meio de saco cheio de Pedro. Está arrependida de não ter ficado com Augusto. Poderia ter sido legal.

Duas tequilas e quatro cervejas - R$ 53,00 – Tatiana, 22 anos. Namorava há dois. Está solteira há um mês, mas ainda não conseguiu tirar Otávio da cabeça. Está pensando em pagar a conta e ligar pra ele, embora todas suas amigas, querendo que ela fique mais tempo solteira, recomendem o contrário.

Seis cervejas – R$ 35,00. Dois refrigerantes – Maurício, 24 anos. Maria Luiza, 23 anos. Começaram a namorar há dois meses. Maurício está feliz, Maria Luiza nem tanto.

Caixa da Casa da Matriz há três anos, Dona Augusta, 47 anos, não vê a hora de o último cliente pagar a conta e pegar sua condução para o Irajá onde mora com o filho. Amanhã é sábado. As histórias, que ela sequer conhece e tampouco faz questão de conhecer, se repetirão.

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