domingo, 31 de janeiro de 2010

O neoliberalismo, o Brasil e a Educação

Há muito eu ouço que o Brasil não investe em Educação. Sempre na terceira pessoa. Poderíamos substituir o Brasil por ele. Ele não investe em Educação. E a gente, o que está fazendo? Cada vez menos procurando informação; Educação. Quer dizer, Educação a gente até procura, mais por exigência do mercado do que por interesse próprio. A gente não faz mais Mestrado, a gente faz Master Business Administration.
Outro dia ouvi um argumento bem justificável do porquê os franceses refutam tanto o ''american way of life''. Com a correria frenética e tanto tempo dedicado ao trabalho, teriam eles menos tempo para se dedicar às atividades intelectuais.
E este foi um argumento que abalou parcialmente minhas convicções neoliberais, motivadas sobretudo pela prosperidade americana.
Mas voltemos à questão tupiniquim. Como exigir Educação num país (quando eu digo país, por favor, leia-se os 180 milhões de habitantes, e não o Governo ou o Lula) em que cada vez fica mais fácil ganhar dinheiro sem desenvolvê-la? E quando eu escrevo isso me pego mais uma vez contradizendo minhas ideologias, já que é inegável que é bom que todos prosperem.
E eu não me refiro somente aos menos abastados financeiramente, que é justificável que de fato leiam menos. Para a classe média, é só fazer um curso de ADM, de Marketing, de Engenharia, passar num programa de trainee da Shell, da Coca-Cola, pra ganhar muito bem. Claro que pra isso você tem que ser ''focado'', pensar nos ''resultados'' e nos ''diferenciais''. Mas não precisa ler muito, não. Dois do Kotler já tá bom.
São novamente sinais dos tempos modernos, em que os empregos e os bons salários estão nas empresas, e não mais nas velhas profissões que exigiam mais dedicação à leitura, como o Jornalismo, o Direito, a Medicina, a Pedagogia.
Como pensar em Educação, num país onde uma bolsa de mestrado paga menos do que o primeiro salário de um recém-formado? Estudar e ler pra ser chamado de pseudointelectual? Isso é demodé.
Como querer ser jornalista quando ninguém está mais preocupado em informação de qualidade? Os 140 caracteres do Twitter já me bastam, eu consigo saber do mundo todo ali e ainda fico sabendo que a @Bia foi no Itahy ontem.
Tem também o argumento de que hoje temos mais atrativos além da leitura. Talvez seja melhor ir ouvindo um Ipod no metrô do que lendo um livro. Aliás, o Ipad está chegando aí, a gente pode ver vídeos, ouvir música e até... ler. Mas aí a vista cansa. Talvez Monteiro Lobato não estivesse se referindo ao Brasil quando disse que ''um país se faz com homens e livros''. A questão da Educação no Brasil é mais simples do que se pensa, o liberalismo explica com a lógica de mercado. Falta Educação no Brasil porque não tem quem a consuma.

3 comentários:

nathaliajordao disse...

Me lembrou da velha discussão de que "marketeiros não leem".
Você já superou isso, vai... ;-)
Beijo!

Dan disse...

Agora, quem é mais culto? Um francês que sabe recitar de cor todos os poemas da língua ou um americano, que manja tudo de nanotecnologia?
Em todo caso, são dois saberes diferentes e avançados. O saber, no Brasil, não é nem tecnológico nem literato - é o saber dos livros da Zíbia Gasparetto.

Joao Vicente disse...

a nanotecnologia pode mudar a tecnica, os instrumentos. temos que mudar o homem que utiliza esses instrumentos. neste caso, a filosofia, a historia e - por que nao - a poesia sao muito mais importantes.

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